Caxemira: Qual a origem da disputa entre Índia e Paquistão?
- Siqka
- há 21 horas
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A disputa entre Índia e Paquistão é o sintoma inflamado de uma ferida colonial que jamais cicatrizou. Desde a partilha brutal de 1947, ambos os países alimentam uma rivalidade que combina nacionalismo, militarização e uma corrida por legitimidade – sempre às custas da população da Caxemira.

No último 22 de abril, um atentado em Pahalgam explodiu um ônibus de turismo, deixando vinte e seis mortos. O grupo que reivindicou o ataque se apresentou como a Frente de Resistência, nome novo para uma velha dor. Nova Délhi retaliou com bombardeios e ataques no lado paquistanês da linha de controle; Islamabad reagiu denunciando um “ato de guerra”. O ciclo de violência se reinicia – como sempre.
A Caxemira, região de beleza inegável, é novamente arrastada para o epicentro da disputa. Desde a revogação de sua autonomia em 2019 pelo governo indiano, a tensão só aumentou. O que a Índia chama de integração, os caxemires chamam de ocupação. O ataque recente dissolveu a tênue calmaria dos últimos anos, levando ao cancelamento de tratados, voos e até do comércio indireto.
A origem da ferida
A raiz do conflito remonta ao fim do domínio britânico no subcontinente indiano. Em 1947, com o colapso do Império Britânico, a Índia foi dividida de forma abrupta e violenta: nasciam duas nações — uma Índia majoritariamente hindu, e um Paquistão concebido como lar dos muçulmanos. A partilha não levou em conta as complexas identidades étnicas, religiosas e regionais que formavam o tecido social do subcontinente.
A divisão gerou uma migração forçada de cerca de 15 milhões de pessoas e resultou na morte de pelo menos um milhão — um verdadeiro genocídio desprezado pela humanidade. Essa partilha arbitrária deixou várias regiões em disputa, mas nenhuma tão explosiva quanto a Caxemira.
A tragédia da Caxemira
O Estado principesco da Caxemira, governado por um marajá hindu, era habitado majoritariamente por muçulmanos. Quando a partilha foi oficializada, o marajá hesitou em se unir à Índia ou ao Paquistão. Pressionado por uma revolta interna e pela invasão de tropas tribais apoiadas pelo Paquistão, ele optou por assinar o Ato de Acessão à Índia — em troca de apoio militar indiano. Assim começou a primeira guerra indo-paquistanesa, em 1947.
Desde então, a Caxemira permanece uma terra dividida e militarizada, com uma linha de controle (LoC) que separa as zonas controladas por Índia e Paquistão — uma linha que, de “controle”, nada tem. A população local nunca foi consultada sobre seu destino político. Não houve plebiscito, não houve soberania. Apenas fuzis, checkpoints e soldados.

Entre dois impérios, um povo sequestrado
Ao longo das décadas, a Caxemira tornou-se o centro de três guerras diretas entre os dois países e de incontáveis escaramuças. A militarização é tamanha que a região se transformou em um dos territórios mais vigiados do planeta. Para o povo caxemir, isso significa viver sob cerco: detenções arbitrárias, censura, toques de recolher e desaparecimentos suspeitos.
Quando o governo nacionalista de Narendra Modi revogou o status especial da Caxemira em 2019 — previsto no artigo 370 da constituição indiana —, prometeu desenvolvimento e integração. Mas o que se instalou foi um regime de exceção. Internet cortada por meses, líderes locais presos, protestos esmagados com força bruta. Para os caxemires, isso não foi uma transição democrática, mas uma colonização disfarçada de democracia.
O ataque de abril de 2025 expõe novamente esse teatro trágico: o paraíso na Terra, como a Caxemira é conhecida, continua prisioneiro de duas nações que reivindicam a posse de sua terra, mas negam sua voz. Com a nova escalada entre Índia e Paquistão, como já dito: quem paga é o povo caxemir.