Clubes neonazista, inspirados em movimentos dos EUA, estão avançando sobre a Europa e a América Latina
Nos últimos anos, uma tendência preocupante tem ganhado força em vários pontos do globo: a criação de clubes de artes marciais ligados a ideologias de extrema-direita. Nascidos nos Estados Unidos e centrados no treinamento físico e na radicalização política, esses grupos estão se espalhando rapidamente pela Europa e América Latina, promovendo discursos xenofóbicos, nacionalistas e violentos. Recentemente, na cidade canadense de London, na província de Ontário, mais de uma dezena de homens mascarados realizaram uma manifestação em frente à prefeitura, carregando faixas com mensagens como “deportações em massa agora” e entoando palavras de ordem que remetem ao discurso neofascista. O episódio exemplifica o avanço de uma rede internacional de grupos que se autodenominam “clubes ativos” — células autônomas que unem práticas esportivas à doutrinação ideológica. ARQUIVO O fenômeno, inicialmente limitado ao território norte-americano, hoje alcança países como Suécia, Suíça, Austrália, Chile e Colômbia. De acordo com levantamento do Global Project Against Hate and Extremism (GPAHE), esses grupos já atuam em pelo menos 27 países. Além disso, há uma expansão contínua voltada à captação de jovens homens, principalmente por meio das redes sociais e aplicativos criptografados como o Telegram. A pesquisadora Heidi Beirich, cofundadora do GPAHE, explica que a estrutura desses clubes foi inspirada no modelo criado por Rob Rundo — um militante neonazista dos EUA que ganhou notoriedade após os confrontos violentos ocorridos na Califórnia em 2017. Apesar de Rundo não estar diretamente ligado às células atuais, sua ideologia continua sendo uma das principais referências entre os membros. Artes marciais como ferramenta ideológica A aliança entre atividades físicas e propaganda de extrema-direita tem se tornado cada vez mais explícita. Clubes promovem treinos de luta como forma de "preparação para o conflito racial", como apontam pesquisadores. O discurso gira em torno da ideia de defesa da "identidade branca", frequentemente associada a valores nacionalistas e hostis à diversidade étnica e cultural. Na Austrália, por exemplo, o neonazista Thomas Sewell tem impulsionado a criação de clubes com a mesma filosofia. Ele é acusado de promover ataques violentos e recrutar jovens para sua causa. Na Europa, outros líderes locais vêm replicando a fórmula, com adaptações às realidades regionais. Já nos Estados Unidos, grupos como o Patriot Front seguem ativos e em constante colaboração com os chamados clubes ativos. Vídeos publicados nas redes sociais mostram seus integrantes participando de sessões de luta e treinamento tático, além de circularem convites públicos para novos membros. Patriot Front Expansão silenciosa e preocupante Apesar do caráter descentralizado, esses grupos compartilham uma visão de mundo baseada na exclusão, na supremacia racial e na negação dos direitos de imigrantes, refugiados e minorias. Segundo especialistas, o crescimento dessas organizações representa uma ameaça real à segurança pública e à democracia, tanto pela violência física que incentivam quanto pela propagação de discursos extremistas em espaços digitais. A internacionalização dessa rede mostra que o neofascismo contemporâneo está longe de ser um fenômeno isolado. Seu avanço silencioso, por meio de academias, fóruns online e símbolos aparentemente inofensivos, exige uma resposta urgente das autoridades, das plataformas de comunicação e da sociedade civil.