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Evgeny Khaldey (1917-1997) A Bandeira da Vitória 1945

Em 2 de maio de 1945, um jovem fotógrafo soviético chamado Evgeny Khaldey eternizou em uma única imagem um dos momentos mais emblemáticos do século XX: a tomada de Berlim pelo Exército Vermelho e o consequente colapso do regime nazista. Intitulada “A Bandeira da Vitória”, a fotografia mostra soldados soviéticos fincando a bandeira da União Soviética no topo do edifício do Reichstag, o parlamento alemão. A imagem rapidamente se tornaria um símbolo universal da vitória sobre o fascismo.


Evgeny Khaldey (1917-1997) A Bandeira da Vitória 1945 - restauração ©clandestino
Evgeny Khaldey (1917-1997) A Bandeira da Vitória 1945 - restauração ©clandestino

Mas o poder dessa imagem vai muito além do seu valor documental. Ela condensa em si o peso da guerra, o triunfo ideológico do comunismo sobre o nazismo e a encenação heroica que marca toda guerra moderna. Com composição cuidadosamente planejada, Khaldey capturou o gesto simbólico de erguer a bandeira vermelha, evocando a famosa imagem norte-americana da bandeira hasteada em Iwo Jima, ocorrida meses antes no Pacífico. Mas, diferente do espontâneo registro de Joe Rosenthal, Khaldey preparou sua cena: viajou com uma bandeira feita por ele mesmo e encenou a tomada do Reichstag horas depois do verdadeiro combate, com soldados posando sob ordens suas.

Essa escolha — de reconstruir artisticamente o acontecimento — não desqualifica a fotografia; ao contrário, revela uma camada essencial da função da imagem na guerra: não apenas registrar, mas representar uma narrativa histórica, política e ideológica. A bandeira vermelha tremulando sobre as ruínas do coração do nazismo diz ao mundo, de maneira inequívoca, quem venceu e o que essa vitória significava para os soviéticos. Era o fim do Terceiro Reich e o início de um novo arranjo mundial marcado pela Guerra Fria.

A foto foi publicada em dezenas de jornais e revistas em todo o mundo. Mas com a sua difusão, surgiram também as polêmicas. Em versões posteriores da imagem, um dos soldados teve um relógio removido digitalmente de seu pulso — uma tentativa de apagar qualquer indício de saques durante a ocupação. Esse retoque mostra como, mesmo em tempos de verdade histórica, a guerra exige seus próprios mitos e purificações simbólicas.

Evgeny Khaldey, fotógrafo judeu e comunista, sabia que sua imagem não era apenas um registro factual. Era um ícone construído, um manifesto visual que condensava as dores da guerra, o orgulho soviético e o projeto político de uma nação que se via como redentora do mundo diante da barbárie nazista.

“A Bandeira da Vitória” não é apenas uma fotografia de guerra. É uma narrativa de poder, uma peça de propaganda, e um testamento da capacidade humana de criar símbolos duradouros mesmo a partir das ruínas.

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