Entre pele negra, as máscaras continuam, Fanon não passará nas telas brancas da França
- Mohammed Hadjab
- há 1 dia
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No dia 2 de abril de 2025, estreou nos cinemas o filme Fanon, dirigido por Jean-Claude Barny (Le Gang des Antillais). A obra reconstitui a trajetória de Frantz Fanon, psiquiatra, escritor e figura central do pensamento anticolonial do século XX. Protagonizado por Alexandre Bouyer, com Déborah François e Stanislas Merhar no elenco, o longa retrata o período em que Fanon atuou como chefe do hospital psiquiátrico de Blida, na Argélia, durante a guerra de independência. Suas abordagens médicas humanistas logo entraram em choque com a violência do regime colonial francês, conduzindo-o a um engajamento político que marcou profundamente a história da descolonização. Fanon se insere no campo das cinebiografias históricas com posicionamento claro, apostando em uma narrativa comprometida com a memória crítica e com a denúncia das estruturas coloniais ainda presentes.

A estreia do filme Fanon poderia ter marcado um ponto de virada. Um filme centrado em Frantz Fanon, uma figura fundamental do pensamento decolonial, psiquiatra martinicano engajado na guerra de independência da Argélia, concebido e realizado pelo cineasta antilhano Jean-Claude Barny, é um evento raro!
E, no entanto, sua distribuição permanece marginal: cerca de 70 salas, um circuito muito limitado, praticamente nenhuma comunicação institucional. A maioria das grandes redes de exibição simplesmente o ignorou.

O filme não corresponde ao que o meio cultural espera (ou tolera) de uma obra sobre a colonização — ainda mais sobre a Argélia. Não é um objeto pedagógico neutro, nem um relato encenado por um olhar branco. Ele está ancorado em uma perspectiva negra, autônoma e política. E é exatamente isso que incomoda.
O filme não busca poupar sensibilidades, nem oferecer um relato reconciliador. Assume uma visão forte, radical e, por vezes, desconfortável. Não narra a história colonial como uma página virada, mas como um sistema ainda ativo em seus efeitos e estruturas.
Em um momento em que a extrema direita está em plena ascensão, as tensões diplomáticas com a Argélia se intensificam, a guerra na Palestina aprofunda as divisões políticas, e o movimento decolonial — impulsionado pelos descendentes dos antigos colonizados — ganha força na França, um filme sobre Frantz Fanon só incomoda.
Ele expõe uma história ainda latente, um passado que não foi superado e um pensamento radical que questiona diretamente as estruturas coloniais ainda em vigor. Sua recepção marginal evidencia o profundo desconforto que provoca no cenário cultural e político atual.
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