Violência de Gangues e Cortes de Ajuda Humanitária Deixam Milhões com Fome no Haiti
- Clandestino
- 10 de mai.
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A crise humanitária no Haiti atinge níveis alarmantes, com a escalada da violência de gangues e a redução drástica da ajuda internacional mergulhando o país em um estado de emergência sem precedentes. Mais de um milhão de haitianos foram deslocados de suas casas, e a insegurança alimentar ameaça a sobrevivência de milhões, especialmente crianças e mulheres grávidas.

Christiana, mãe de seis filhos, é um dos rostos dessa tragédia. Após a morte de seu marido em meio à violência crescente, ela fugiu com sua família para Mirebalais, onde sua filha de seis anos, Leineda, iniciou tratamento contra desnutrição. No entanto, a expansão das atividades de gangues obrigou a família a se deslocar novamente para Boucan-Carré, interrompendo o tratamento da criança. "Às vezes, sofremos de doenças silenciosas que nos destroem por dentro", desabafa Christiana.
A situação de Christiana não é isolada. Nos últimos meses, gangues armadas expandiram seu controle além de Porto Príncipe, alcançando os departamentos de Centro e Artibonite, deslocando cerca de 64.000 pessoas dessas áreas, segundo estimativas da ONU. A insegurança crescente impede a entrega de ajuda humanitária, agravando a crise alimentar e de saúde.
A diretora do Programa Mundial de Alimentos da ONU (PMA) no Haiti, Wanja Kaaria, alerta: "O que estamos vendo no terreno é inimaginável. As comunidades estão sendo deslocadas diariamente, e as imagens de mulheres e crianças fugindo para salvar suas vidas sem nada são de partir o coração".
Desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse em 2021, a violência de gangues se intensificou, com cerca de 85% de Porto Príncipe sob controle desses grupos. Mais de um milhão de haitianos foram deslocados devido à violência, e os ataques se expandiram para outras regiões, como Mirebalais e Artibonite, resultando em dezenas de mortes e destruição de residências.
A crise é agravada pela escassez de financiamento para operações humanitárias. O PMA estima que precisará de US$ 72,4 milhões nos próximos 12 meses para continuar fornecendo assistência alimentar. O UNICEF, por sua vez, necessita de US$ 1,2 milhão nos próximos seis meses para lidar com os deslocamentos em andamento no Departamento Central do Haiti.
Apesar das dificuldades, as agências da ONU continuam trabalhando com parceiros locais para fornecer recursos essenciais às comunidades deslocadas. No Departamento do Centro, o UNICEF alcançou 8.500 pessoas com recursos, incluindo seis clínicas móveis. O PMA também forneceu refeições quentes e kits de alimentos para mais de 13.100 pessoas deslocadas nesta região desde o início de maio.
A diretora do PMA no país, Wanja Kaaria, enfatiza: "Este é o momento de intensificar. O futuro do Haiti depende das ações que tomarmos hoje". A assistência alimentar oferece dignidade para as famílias que agora vivem com pouca esperança, mas as restrições de financiamento estão impedindo uma resposta em escala adequada.
Enquanto isso, a jovem Leineda retomou seu tratamento contra desnutrição em Boucan-Carré. Christiana expressa alívio: "Sinto-me feliz hoje porque antes não tínhamos médicos para nos examinar ou entender nossa dor". A presença dos médicos traz de volta um senso de dignidade e esperança para famílias como a dela.
A situação no Haiti exige uma resposta internacional urgente para evitar uma catástrofe humanitária ainda maior. Sem ações concretas e financiamento adequado, milhões continuarão à mercê da violência e da fome.
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