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"Me deixe orgulhosa" foi a última mensagem de uma jornalista para seu filho, antes de ser bombardeada por Israel

Um duplo bombardeio israelense contra o hospital Nasser, em Khan Younis, sul da Faixa de Gaza, resultou na morte de ao menos 20 pessoas, incluindo cinco jornalistas que trabalhavam para veículos internacionais. As explosões, registradas em vídeos pela BBC, ocorreram com intervalo de cerca de dez minutos, atingindo primeiro o quarto andar do hospital e, logo depois, equipes de resgate e jornalistas que acompanhavam a situação.


Entre as vítimas estava Mariam Abu Dagga, fotojornalista freelancer de 33 anos que colaborava com a Associated Press (AP). Pouco antes de morrer, Mariam havia deixado um testamento no qual pedia aos colegas que não chorassem em seu funeral e escreveu ao filho, Ghaith, de 13 anos: “Me deixe orgulhosa. Alcance o sucesso e brilhe.”


A AP lamentou profundamente a morte de sua repórter, lembrando sua dedicação em mostrar ao mundo o impacto da guerra sobre as crianças de Gaza. Outros jornalistas mortos foram Hussam al-Masri, cinegrafista da Reuters; Mohammad Salama, da Al Jazeera; Ahmed Abu Aziz, colaborador do Middle East Eye; e Moaz Abu Taha, fotógrafo independente.


Mariam Dagga
Mariam Dagga

“Israel sabe que somos jornalistas”

Testemunhas relataram que, após o primeiro ataque, profissionais de imprensa e equipes médicas subiram as escadas do hospital para transmitir imagens e socorrer feridos. Nesse momento, o segundo míssil atingiu exatamente o mesmo local, matando e ferindo vários deles.


Um jornalista que sobreviveu descreveu à BBC a cena como “caótica e sangrenta”, denunciando que os alvos estavam claramente identificados com coletes da imprensa. Outro repórter afirmou: “Israel sabe que somos jornalistas e que estamos aqui para mostrar a dor do nosso povo.”


O episódio reacendeu o debate sobre a prática militar conhecida como double tap — um segundo ataque calculado para atingir socorristas e testemunhas que chegam ao local logo após o primeiro bombardeio. Especialistas em direitos humanos classificam a estratégia como uma violação grave das leis internacionais de guerra.


O governo israelense descreveu o caso como um “acidente trágico” e disse conduzir uma investigação. Em nota, as Forças de "Defesa" de Israel alegaram que o alvo seria uma câmera instalada no hospital e usada pelo Hamas para monitorar movimentos militares. Autoridades de Gaza refutaram a versão, afirmando que a câmera pertencia a um fotojornalista da Reuters morto no ataque e acusando Israel de criar narrativas para justificar crimes de guerra.


O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou “os assassinatos horríveis” e pediu uma investigação independente. Francesca Albanese, relatora especial da ONU para os territórios palestinos, cobrou sanções contra Israel e a suspensão da venda de armas ao país.


Segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), mais de 190 jornalistas foram mortos desde o início da guerra, já o Sindicato de Jornalista Palestinos (PJS) indica 244. Organizações como a Federação Internacional de Jornalistas e o PJS exigem responsabilização imediata.


Enquanto isso, em Gaza, colegas e familiares se despedem de Mariam Abu Dagga, lembrada não apenas por sua coragem profissional, mas também por sua ternura no olhar através das lentes. Sua mensagem final ao filho ecoa como símbolo da resistência dos jornalistas palestinos diante de uma guerra que também tem como alvo a verdade.

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