Parteira tradicional não é "crendice". É Patrimônio. É Resistência.
- Zina Covesi
- 7 de mai.
- 2 min de leitura

No dia 5 de maio, comemoramos o Dia Internacional das Parteiras, mas não há como fazê-lo sem refletir sobre o quanto o mundo perdeu sua essência humana.
Enquanto parteiras lutam para trazer vida ao mundo com sabedoria ancestral, outras mãos fabricam bonecos reborn para preencher vazios que a sociedade não soube curar.
Enquanto mulheres palestinas dão à luz em meio a escombros numa limpeza étnica que já matou mais de 20 mil crianças e congolesa fogem com bebês nos braços de massacres brutais, o mesmo mundo que gasta fortunas em bonecos hiper-realistas e ignora o choro de crianças reais agonizando.
As parteiras são guardiãs do sagrado – do primeiro suspiro roubado ao silêncio, do cordão cortado como um pacto com a vida, do colo que aquece em um mundo que insiste em destruir. Elas representam a resistência contra uma humanidade que transformou a existência em mercadoria.
Enquanto outras gastam fortunas em bonecos de vinil que simulam vida, negam leitos a mulheres que sangram vida real; rolam a tela do celular diante de corpos reais de crianças sob escombros – e sequer pausam o café da manhã. Até quando chamaremos isso de "normalidade" em vez de cumplicidade?
Enquanto mães de reborn mimam bonecos inertes, parteiras seguram em suas mãos mulheres que sangram, que gritam que trazem ao mundo filhos que podem vir a ser mais um número em estatísticas de guerra. O mesmo sistema que romantiza a maternidade como hobby é o que nega direitos básicos a quem gera vida de verdade.
Na Palestina, no Congo, no Sudão, crianças são enterradas sem nome, e ninguém as chama de "fofas". Este dia não é só sobre parteiras – é sobre lembrar que a vida tem peso, tem cheiro, tem dor e tem história e tem nome e que não pode ser substituída por silicone, nem apagada como se fosse um dado em um conflito distante.
As parteiras, com suas mãos calejadas e seu conhecimento herdado, nos mostram que ainda há humanidade possível – mas só se lutarmos por ela.
Que neste dia, cada bebê nascido sob o cuidado de uma parteira seja um protesto, um grito contra um mundo que esqueceu o valor do primeiro choro, mas não se esqueceu de alimentar o capitalismo.
A autora: “Minha homenagem vai para Dona Joaquina, parteira da Serra do Arapuá, anciã indígena dos Pankará, falecida em 2020 aos 99 anos, que trouxe à vida mais 800 bebês”.
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