Reuniões da Organização Secreta
- Clandestino
- 12 de ago. de 2024
- 3 min de leitura
Após a briga entre Yaba e Mahmoud, a casa mergulhou em um silêncio profundo e incomum. Ninguém ousava comentar sobre as atividades clandestinas do meu irmão; parecia que o silêncio era uma tentativa de evitar a tempestade que se formava sobre nossas cabeças. Para tentar controlar a situação, meu irmão começou a reduzir suas saídas para as atividades noturnas. Eu sabia apenas que ele estava envolvido em uma organização secreta, e aquilo era empolgante, mas eu também sabia que nunca poderia revelar isso a ninguém, por mais que minha boca tivesse vontade própria.
Se, por um lado, Mahmoud passava mais tempo em casa, por outro, começou a receber seus amigos da organização. Eles vinham regularmente, trazendo um ar de clandestinidade que eu não conseguia compreender totalmente, mas que estava claramente presente em cada visita.
Eu estava extremamente curiosa para entender o que era essa organização e o que meu irmão estava fazendo, mas o medo de perguntar me paralisava. Decidi, então, desvendar sozinha todo aquele mistério sem fazer perguntas diretas. Eu andava pela casa na esperança de ouvir algo, mas nada; nenhuma palavra. O fato de transitar de um lado para o outro e estar sempre visível fez com que meu irmão me incumbisse de uma missão secreta. Toda tarde que antecedia uma das reuniões da organização em nossa casa, meu irmão me dava algumas moedas e pedia que eu fosse até Abu Sayed, o vendedor de falafel. Ele me instruía a entregar o dinheiro e pedir ao homem que estivesse em nossa casa às oito horas sem falta, e que não esquecesse o falafel.
Eu seguia exatamente as instruções de Mahmoud. Caminhava até a loja de Abu Sayed, entregava o recado e esperava por uma resposta. No entanto, ele nunca dizia nada. Então, eu perguntava se havia algum recado para meu irmão, e ele simplesmente balançava a cabeça em resposta, sem pronunciar uma palavra. Nunca ouvi uma palavra de Abu Sayed e não me lembro de ele ter aceitado o pagamento de meu irmão uma única vez, mas ele sempre chegava no horário combinado e nunca se esquecia de trazer os falafels.
Em uma daquelas reuniões, fui escalada para servir chá e falafel para os homens da organização. Desde então, me oferecia para todas as reuniões. Sabendo exatamente quando iriam acontecer, me preparava e revisava na cabeça tudo o que sabia até então. Era curioso observar que, sempre que minha mãe ou meu pai entravam na sala, o assunto da reunião mudava e os presentes ficavam visivelmente constrangidos. No entanto, quando eu entrava, parecia que eu era invisível, como uma mosca que passava despercebida, o que me permitia ouvir as conversas.
Embora eu não pudesse participar formalmente das reuniões, comecei a juntar as peças daquele misterioso quebra-cabeça. Infelizmente, não compreendia muito do que era discutido, pois havia muitos nomes estrangeiros e termos que eu não conhecia. No entanto, um nome se destacava: Abu Ammar. Eu ainda não tinha a menor ideia de quem ele fosse e nunca o havia visto presente, mas seu nome parecia ser de alguém com grande respeito e talvez o mais importante na organização. Aquela informação era mais do que a maioria dos palestinos na Jordânia sabia, e muitos pagariam caro por ela. Mas eu era devota ao meu irmão e nunca revelaria a ninguém o que sabia, afinal, uma coisa era certa: aqueles homens, aquela organização, o tal Abu Ammar e meu irmão eram os guerreiros incumbidos da missão de libertar a Palestina
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