A Ditadura do Algoritmo: Como as Big Techs Moldam o Que Você Vê e Pensa
- Clandestino
- 13 de jan.
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Em meio ao intenso debate sobre a moderação de conteúdo nas redes sociais, Guilherme Canela, chefe de Liberdade de Expressão e Segurança de Jornalistas da Unesco, defendeu que empresas do setor priorizem a transparência e realizem análises de risco em suas políticas. Em entrevista ao Podcast ONU News, Canela destacou que desinformação e discurso de ódio, amplificados pela inteligência artificial, representam desafios para a liberdade de expressão e os direitos humanos.
A entrevista de Canela ocorre antes de sua viagem a São Francisco, nos Estados Unidos, para reuniões com líderes do setor tecnológico. Ele comentou a decisão da Meta, dona do Facebook, Instagram e Threads, de encerrar o programa de verificação de fatos nos Estados Unidos.
“O anúncio é vago nos detalhes. Precisamos saber que análise de risco foi feita para justificar a decisão. A empresa considerou os impactos dessa mudança nos direitos humanos? Apenas com respostas claras será possível avaliar as consequências dessa escolha”, afirmou Canela.
A decisão da Meta foi anunciada por Mark Zuckerberg, CEO da empresa, alegando que o modelo de verificação de fatos corria o risco de parecer politicamente tendencioso. O alto comissário de Direitos Humanos da ONU, Volker Turk, rebateu, destacando que regular discurso de ódio e conteúdo prejudicial online não se trata de censura, mas de proteger direitos e evitar consequências no mundo real.
Para Canela, a inteligência artificial ampliou a velocidade, o alcance, a viralidade e a aparência de veracidade de conteúdos falsos. Ele apontou que essas características têm implicações graves, especialmente em processos sociais importantes, como eleições, vacinação e a confiança em instituições.
“O que a inteligência artificial faz é aumentar exponencialmente esses fatores, permitindo que conteúdos falsos pareçam verdadeiros, o que pode impactar negativamente decisões críticas”, explicou.
Outro tema abordado foi a Iniciativa Global Contra a Desinformação Climática, lançada pela Unesco em parceria com o Brasil. O objetivo é investigar como a desinformação sobre mudanças climáticas opera em diferentes países, identificando seus financiadores e estruturas.
“Precisamos entender se a desinformação climática tem características semelhantes em lugares como Brasil, Quênia e Indonésia, ou se varia. Com isso, podemos criar políticas públicas baseadas em evidências detalhadas”, ressaltou Canela.
A iniciativa ganha relevância com o Brasil assumindo a presidência da COP30 em 2025, reforçando o papel do país no debate climático global.
Para enfrentar esses desafios, Canela propõe três passos essenciais:
1. Tratar a informação como bem público, promovendo a alfabetização midiática para desenvolver uma relação crítica com o ambiente digital.
2. Qualificar a oferta de informação, assegurando a segurança de jornalistas, cientistas e produtores de conteúdo.
3. Garantir a transparência das plataformas digitais, exigindo análises de risco e políticas que protejam os direitos humanos.
“Essas ações são fundamentais para fortalecer as democracias e assegurar que o ecossistema digital seja mais ético e responsável”, concluiu Canela.