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"Direto nos olhos", Israel cega milhares de palestinos e milhões ao redor do mundo

  • Foto do escritor: Siqka
    Siqka
  • 11 de mai.
  • 4 min de leitura

1500 palestinos perderam a visão devido ao cerco implacável e à guerra incessante imposta por Israel contra a Faixa de Gaza, conforme revela o Ministério da Saúde palestino. Outros 4.000 cidadãos correm o risco de também perder a visão. À primeira vista, poderíamos interpretar isso como o que Israel chama de mais um dos “efeitos colaterais” da "guerra"; no entanto, não é apenas isso! Se hoje os palestinos em Gaza estão perdendo a visão devido aos bombardeios ou à falta de suprimentos médicos adequados para tratar seus ferimentos, é importante recordar que a tática de atirar “direto nos olhos” para cegar, especialmente jornalistas, não é nova.


Muath

Em 2018, o fotojornalista Muath Amarneh cobria manifestações em Surif, na Cisjordânia ocupada, quando foi baleado no olho esquerdo por um sniper israelense, apesar de estar claramente identificado como jornalista. A versão dada pelos soldados israelenses, de que o ferimento havia sido causado por pedras lançadas pelos manifestantes, foi desmentida pelas evidências fotográficas.


Muath foi levado a Jerusalém, onde passou por uma cirurgia para remover o olho e parte da munição que estava próxima ao cérebro. Seu caso expôs uma clara violação do Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que protege a liberdade de expressão e de imprensa. Muath se tornou mais uma vítima de um ciclo de violações de direitos humanos, em que a tentativa de Israel de ocultar crimes contra os palestinos resulta em novas transgressões.



WAZWAZ, Mamoun I Anadolu. Fotojornalista Muath Amarneh é resgatado após ser atingido no olho por bala de borracha durante protesto contra o muro da separação, Hebron, Cisjordânia. 2019.




Attiya

Em novembro de 2018, o fotojornalista palestino Attiya Darwish estava cobrindo as manifestações da Grande Marcha do Retorno, próximo à Linha Verde em Gaza, quando foi atingido por um projétil de borracha no antebraço. Mesmo se afastando para uma distância considerada segura — cerca de 300 metros —, um segundo disparo o atingiu. Uma bomba de gás lacrimogêneo — supostamente “não letal” — explodiu em seu rosto.


Após passar por cirurgias no Egito, custeadas por ONGs, Attiya retornou a Gaza, onde continuou documentando as violações, mesmo com sequelas permanentes, como a perda da visão do lado esquerdo. Ele seguiu segurando sua câmera e, até hoje, continua reportando o genocídio palestino em curso na Faixa de Gaza.



Darwish, Attiya. Fotógrafo segura uma boneca em frente à câmera como símbolo da dor vivida em Gaza durante a guerra. Gaza, Palestina, 2025.
Darwish, Attiya. Fotógrafo segura uma boneca em frente à câmera como símbolo da dor vivida em Gaza durante a guerra. Gaza, Palestina, 2025.




Muath e Attiya não são casos isolados, nem em 2018, muito menos agora. Com a alarmante cifra de 1500 palestinos que perderam a visão e outros 4.000 cidadãos que estão em risco de sofrer o mesmo destino, fica claro que a expressão “direto nos olhos” não é apenas uma metáfora; é uma tática demoníaca que Israel utiliza e que é exportada para forças policiais em outras partes do mundo.



A Exportação da Violência

Durante os protestos no Chile, em 2019, mais de 460 pessoas sofreram graves lesões oculares, sendo que 34 delas perderam completamente a visão em um ou ambos os olhos. Essas lesões foram causadas principalmente por disparos de balas de borracha e granadas de gás lacrimogêneo lançadas pela polícia, especialmente pela força policial Carabineros.


O governo chileno, sob a presidência de Sebastián Piñera, alinhado à direita política, manteve estreitas relações com Israel, incluindo a cooperação em áreas de segurança e defesa. Em 2018, foi assinado um acordo entre os dois países para fortalecer a colaboração em treinamento militar e doutrina, com visitas de oficiais israelenses ao Chile, como o general Yaacov Barak, o que evidencia a exportação da tática de atirar "direto nos olhos".



A Verdadeira Cegueira

Sem querer soar como o poeta do caos, mas assumindo esse risco, devo dizer que Israel ajuda a tirar a visão de milhares de pessoas ao redor do mundo. Contudo, o pior é que a verdadeira cegueira é a do mundo diante do sofrimento palestino. A verdadeira cegueira é o silêncio cúmplice das instituições internacionais que continuam permitindo que crimes de guerra sejam cometidos sem qualquer resposta eficaz. O que está em jogo não é apenas a perda da visão física de milhares de pessoas, mas a perda da visão coletiva de um povo que luta pela sua própria existência e liberdade.


É hora de parar de olhar para Gaza como um território distante e começar a enxergar a realidade de seu povo. A guerra e o cerco não são apenas atrocidades militares; são crimes contra a humanidade. E, enquanto a cegueira for aceita como norma, a humanidade continuará a perder a visão sobre o que realmente importa.


O autor deste artigo pesquisa as violações cometidas contra jornalistas palestinos desde 2018, com foco nos ataques sistemáticos à liberdade de imprensa nos territórios ocupados. Muitas dessas violações, incluindo os casos de Muath e Attiya, estão documentadas no livro "Artigo 19: violações da liberdade de opinião e expressão na Palestina", obra que denuncia os mecanismos de repressão utilizados por Israel para silenciar vozes dissidentes e controlar a narrativa sobre a ocupação.

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