Enquanto gangues dominam as ruas e o povo definha de fome no Haiti
- Clandestino
- 18 de abr.
- 2 min de leitura
A tragédia anunciada no Haiti avança em silêncio, sem manchetes e sem comoção internacional. Segundo o mais recente relatório da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), mais da metade da população haitiana — 5,7 milhões de pessoas — está afundada em insegurança alimentar aguda. Trata-se da maior crise de fome já registrada no país.
O cenário é de emergência humanitária. Desses milhões, mais de dois milhões estão à beira do colapso nutricional (Fase 4 do IPC) e cerca de 8.400 pessoas vivem em condições de catástrofe total (Fase 5) — sem acesso à comida, desidratadas, desnutridas e à espera da morte por inanição.

Capital dominada por gangues, famílias sem refúgio
Porto Príncipe, a capital, foi sequestrada por facções armadas que impõem o terror cotidiano. A violência generalizada provocou o deslocamento de mais de um milhão de pessoas, que hoje se espremem em prédios públicos, escolas abandonadas e espaços insalubres. Água limpa, alimentos e assistência médica se tornaram luxos inalcançáveis.
Mesmo com os esforços do Programa Mundial de Alimentos (PAM), que já conseguiu atender 1,3 milhão de pessoas em 2025, as operações correm o risco de parar. Faltam US$ 53,7 milhões para manter as ações de emergência pelos próximos seis meses.
“Estamos lutando para não perder mais vidas. Mas a verdade é que estamos sozinhos”, afirma Wanja Kaaria, diretora do PAM no Haiti.
A agência tem distribuído refeições quentes, apoio financeiro e acesso inédito a zonas dominadas por grupos armados, onde o Estado desapareceu há tempos. O PAM também opera o Serviço Aéreo Humanitário da ONU, garantindo que suprimentos e trabalhadores humanitários consigam chegar aos poucos refúgios possíveis.
Crianças em risco de extinção silenciosa
A infância haitiana está sendo apagada diante dos nossos olhos. Segundo o UNICEF, mais de um milhão de crianças enfrentam fome crítica, e quase 130 mil correm risco de vida por desnutrição severa. Apenas 4% delas receberam tratamento até agora.
A violência impede a entrega de alimentos, o colapso econômico impediu os pais de alimentarem os filhos, e 70% do programa de nutrição infantil está sem recursos.
“O sistema de saúde está morrendo. As crianças estão morrendo. E o mundo assiste calado”, disse Geeta Narayan, representante do UNICEF no Haiti.
Apesar dos alertas desesperados da ONU, o mundo segue apático. Nenhuma cúpula de emergência, nenhum trending topic. Haiti segue, como sempre, sendo descartável aos olhos das potências globais.
Enquanto a fome vira arma e a morte por desnutrição se torna rotina, o clamor por paz é sufocado pelo barulho das balas — e pelo silêncio cúmplice dos que poderiam agir, mas escolhem assistir.
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