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"Nossos coletes de imprensa estão nos transformando em alvos." Jornalista relata bombardeio israelense que lhe custou a perna

  • Foto do escritor: Clandestino
    Clandestino
  • há 1 dia
  • 3 min de leitura

"Hoje, não acredito mais em nada. Os coletes que deveriam nos proteger estão nos transformando em alvos. Para nós, vestir esse símbolo tem se tornado uma sentença de morte", declarou a jornalista libanesa Christina Assi em entrevista à ONU News.



Christina Assi @christinaassi
Christina Assi @christinaassi


No dia 13 de outubro de 2023, enquanto cobria o confronto entre forças israelenses contra o Hezbollah, no Líbano, Assi — fotojornalista da agência Agence France-Presse (AFP) — foi gravemente ferida por dois ataques aéreos israelenses. O bombardeio atingiu a encosta onde ela e colegas acompanhavam os desdobramentos do conflito. Ela perdeu a perna direita.


De acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), 2024 foi o ano mais letal para a imprensa desde o início do monitoramento da entidade há mais de três décadas. Somente no ano passado, ao menos 124 jornalistas e trabalhadores da mídia foram mortos — cerca de dois terços deles palestinos, vítimas de ações israelenses.


Assi é uma das poucas sobreviventes desses ataques e afirma jamais ter imaginado que seria atacada apenas por cumprir sua missão jornalística.



O dia em que tudo mudou...

Assi relembra em detalhes os momentos aterrorizantes daquela que seria uma de suas primeiras grandes coberturas e acabou se tornando o episódio mais traumático de sua carreira.


"Já estava escurecendo, e estávamos nos preparando para deixar o local. De repente, sem qualquer aviso, fomos atacados", relatou. "Caí no chão sem entender o que havia acontecido, gritando por socorro. Meu colega Dylan correu para me ajudar e conseguiu aplicar um torniquete. Mas, entre 40 e 47 segundos depois, fomos atingidos novamente."

No segundo bombardeio, Assi se viu sozinha, ao lado de um carro em chamas. Gravemente ferida e perdendo sangue, teve que rastejar para longe da explosão.


"Meu colete de imprensa pesava demais, e o cinto da câmera me sufocava", recorda.

Foi naquele instante que ela sentiu ruir sua confiança nas normas internacionais de proteção a jornalistas. “Somos deixados à própria sorte", afirmou.


Impunidade e o silêncio global...

Para Christina Assi, a reação da comunidade internacional diante do ataque foi frágil e ineficaz. Apesar das condenações e dos apelos por investigação, nenhuma medida concreta foi tomada.


"Palavras não bastam. Precisamos de ações reais, de mecanismos que conduzam à justiça — mesmo que isso leve tempo", disse ela. Assi critica duramente a impunidade que cerca os ataques a jornalistas: "Nossos casos são tratados como dano colateral. Mas não são. São crimes de guerra. E exigem investigações sérias."

O esquecimento de Gaza...

A jornalista também chamou atenção para a situação dos profissionais palestinos em Gaza, que enfrentam as mesmas ameaças sem qualquer proteção internacional.


"Esses jornalistas têm sido silenciados, perseguidos de todas as formas. A violência contra eles está documentada, circula pelas redes, aparece nos noticiários — mas nenhuma providência é tomada", denuncia. “A ausência internacional não freou a brutalidade. Está tudo escancarado, mas o mundo segue indiferente. Ninguém sequer tentou evitar.”

Uma chama em homenagem...

Quase um ano após o ataque, Christina Assi teve a oportunidade de carregar a tocha olímpica na cidade de Vincennes, na França, antes dos Jogos de Paris 2024. O gesto foi simbólico, mas também profundamente político.


Ao empunhar a tocha, prestou homenagem a seu colega Issam Abdallah, jornalista da Reuters, morto no mesmo ataque. “Foi uma maneira de honrar todos os jornalistas assassinados e lembrar ao mundo — especialmente à comunidade internacional e aos europeus — o que aconteceu conosco. Foi uma chance de romper o silêncio.”

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