O silêncio cúmplice: geopolítica, gênero e a normalização da carnificina na Palestina
- Zina Covesi
- 14 de abr.
- 4 min de leitura
Enquanto tribunais internacionais coletam evidências para investigar "possíveis" crimes de guerra cometidos por Israel na Faixa de Gaza, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu segue em viagens "diplomáticas para novas negociações de varredura étnica", desafiando abertamente a ordem de prisão emitida pelo Tribunal Penal Internacional (CPI) em maio de 2024.
Sua agenda, transmitida em rede global, exibe acordos bilaterais com potências ocidentais, consolidando uma imagem de impunidade estratificada, em salas presidenciais ostentando riqueza e poder.
Netanyahu não apenas ignora a legislação internacional, como também, performa uma soberania que transcende fronteiras — uma postura arrogante de poder que ecoa a pergunta:
Quem governa, de fato, as regras do jogo geopolítico?
Há 554 dias (13/04/2025), o mundo assiste passivamente a uma das operações militares e globais mais desproporcionais de todos os séculos.
Dados da ONU revelam quase 60 mil mortos em território palestino, mais de 15 mil crianças, e 1,9 milhão de deslocados à força — 85% da população de Gaza. (https://www.ochaopt.org/content/reported-impact-snapshot-gaza-strip-8-april-2025)
Hospitais destruídos, bloqueio humanitário e a utilização de armas de precisão contra civis são denúncias recorrentes de organizações como Anistia Internacional e Médicos Sem Fronteiras. Mortes de médicos incendiando em plena rede social ao vivo, palestinos literalmente voando em consequência de bombardeios, descumprimento do cessar-fogo, 335 tiros em um único carro (Hind Rajab, 6 anos), 85% do território destruído e ainda precisam provar o explicito.
Ainda assim, o Conselho de Segurança da ONU permanece paralisado pelo veto sistemático de potências aliadas a Israel, como os Estados Unidos, aprovaram um pacote de US$ 26 bilhões (R$ 133 bilhões) para Israel e ajuda humanitária para civis em zonas de conflito em ajuda militar ao país, (desde 2023 foram aprovados mais de US$ 95 bilhões destinados a Israel).
Nós países como Alemanha, França, Inglaterra, polícias com tropas de choque e gás lacrimogêneo, cassetetes e muitas prisões aos humanos em prol da Palestina. Uma União Europeia dividida.
A pergunta que persiste não é mais sobre a culpa de Israel, mas sobre a arquitetura global que sustenta sua impunidade.
Se a Palestina está sendo apagada do mapa — com 85% das habitações em Gaza reduzidas a escombros —, é porque o sistema internacional opera sob a lógica de um xadrez geopolítico, onde Estados e corporações tratam vidas como peças descartáveis. A realpolitik aqui não é abstrata: é contratos de armamentos, rotas de gás natural no Mediterrâneo e acordos tecnológicos que transformam massacres em negócios.
Não se pode parar o jogo dos “gentlemen” por pura falta de “ética” aos acordos internacionais sombrios desses homens.

E Se Fossem Mulheres no Comando? (Uma Reflexão Necessária)
A indagação proposta é original e incômoda, além de urgente: E se líderes mulheres estivessem à frente desSES ACORDOS?
Historicamente, mulheres em posições de poder tendem a priorizar políticas de proteção social e diplomacia — como mostram os estudos da ONU Mulheres sobre a participação feminina em processos de paz formando redes de apoio além mar, (podendo citar o Navio Woman on Waves que aporta fora dos limites dos náuticos, com segurança para assistência ao aborto).
No entanto, reduzir a questão a uma dicotomia de gênero seria simplista. A verdade é que a estrutura patriarcal e militarista permeia até mesmo as lideranças femininas em contextos de guerra. Angela Merkel (Alemanha), por exemplo, aprovou a venda de submarinos a Israel em 2017, enquanto Ursula von der Leyen, atual presidente da Comissão Europeia, defende publicamente o "direito à autodefesa" israelense.
Mas a pergunta permanece: uma rede global de apoio liderada por mulheres teria força para frear a máquina de guerra praticamente masculina?
Coletivos como o Women Wage Peace (israelense) e o Palestinian Women’s Coalition (israelense) demonstram que, na base, há resistência. A Marcha Mundial das Mulheres, por exemplo, organizou protestos em 50 países contra o genocídio em Gaza, no entanto, essas vozes são abafadas pela mídia global e pela falta de representação em espaços de decisão — apenas 26% dos parlamentares globais são mulheres, e menos de 1% têm assento em mesas de negociação de paz.
A Banalização da Tragédia: Refugiados e a Ausência de Asilo
Enquanto isso, os campos de refugiados incham. Na Turquia, 3,7 milhões de sírios vivem em condições precárias; na Grécia, o campo de Lesbos, um labirinto de tendas superlotadas, sem água ou saneamento. Palestinos, porém, enfrentam um limbo ainda mais cruel: 75% da população de Gaza eram compostas por refugiados de 1948, impedidos de retornar a suas terras pelo que se autointitula "Estado israelense".
A pergunta não é "por que fogem?", mas "por que somos cúmplices de um sistema que os obriga a fugir?".

O Preço da Nossa Indiferença
Vivemos uma esquizofrenia coletiva: compartilhamos posts com hashtags de solidariedade, mas normalizamos a carnificina como pano de fundo de nossas vidas. Enquanto isso, Netanyahu viaja em jatos particulares, a indústria de armas bate recordes de lucro, e crianças palestinas são enterradas sob números, não nomes.
A questão realmente não é provar que Israel é culpado, pois as evidências estão no chão de Gaza. A questão é:
Quantos corpos serão necessários para que o mundo admita que está nas mãos de poucos, e que esses poucos não nos representam?
Se juntarmos a população do Yemem, Turquia, Bangladesh e tantos outros, não conseguiriam parar isso?
Quanto está realmente valendo nosso silencio? Ou ainda, por que o mundo tem medo de Israel?
Comentarios