O Monopólio das Big Techs: Quem controla a Inteligência Artificial?
- Alex Gepete
- 27 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
Não é de se admirar que a inteligência artificial (IA) está exponencialmente crescendo e se tornando uma força transformadora na sociedade, impactando setores chave, influenciando o consumo de informações e até a interação com o mundo ao nosso redor. Mas quem controla essa poderosa tecnologia, vista como a última grande invenção humana?
Seria uma surpresa se o desenvolvimento e a aplicação de algo tão revolucionário estivesse fora do domínio de um seleto grupo de gigantes da tecnologia - as Big Techs - como Google, Microsoft, Amazon, OpenAI e outras do cenário, concentrando poder e recursos, levantando sérias e preocupantes questões que ameaçam a democracia e a justiça social, além de colocar em risco o futuro da inovação.
Sua relação no campo da inteligência artificial é inquestionável. Essas grandes corporações detêm os recursos, a infraestrutura e, principalmente, o controle dos dados para treinar e desenvolver modelos cada vez mais sofisticados.
Vejamos:
Google: Com um amplo conjunto de produtos e serviços, incluindo o mecanismo de busca dominante, o Google tem acesso a uma quantidade colossal de dados. Isso permite uma vantagem competitiva para que a empresa treine modelos de IA de última geração, como o Gemini, e os implemente nas mais diferentes áreas possíveis.
Microsoft: A empresa fundada por um dos grandes pioneiros da computação de consumo, Bill Gates, investiu pesado na tecnologia, integrando-a em seus produtos como o Windows e o Office. A corporação também é uma grande investidora na OpenAI, criadora do ChatGPT, um dos modelos de linguagem mais avançados do mundo.
Amazon: Utilizando IA no varejo online, logística e computação em nuvem, seus algoritmos de recomendação, assistentes virtuais e sistemas de atendimento ao cliente moldam a experiência de milhões de consumidores.
OpenAI: Embora não seja essencialmente uma Big Tech, a OpenAI tem um papel fundamental no desenvolvimento de modelos de linguagem, como os vanguardistas generativos ChatGPT e DALL-E 2. No entanto, Sam Altman, CEO da empresa, declarou recentemente que seu mais novo modelo de fronteira, o GPT-5, e seus sistemas resultantes, os levará ao próximo nível de capacidades para alcançar a Inteligência Artificial Geral (AGI).
Os Riscos do Monopólio da IA pelas Big Techs
Representando uma série de riscos significativos, por concentrar seu desenvolvimento e aplicação nas mãos de poucas empresas, a inovação tende a ser asfixiada. Pesquisadores independentes e Startups encontrarão dificuldades para competir com o grande capital das Big Techs. Levando a uma possível estagnação de novas ideias e abordagens que possivelmente seriam benéficas como um todo. Além disso, em virtude do treinamento com uma base inimaginável de dados, que podem refletir e amplificar os vieses existentes na sociedade por estarem no controle de um grupo homogêneo de pessoas, a IA poderá perpetuar orientações que levam a discriminação de minorias em áreas como recrutamento, justiça criminal e acesso a serviços financeiros.
Um impacto dessa concentração de poder que deve afetar diretamente a todos, sem distinção, será a manipulação da opinião pública. Criando um ambiente propício para a desinformação e a influência de eleições políticas. Uma vez que as regras do jogo estejam nas mãos da “casa”, existe o agravante de que essas tecnologias sejam usadas para fins antidemocráticos. Casos semelhantes ao escândalo da Cambridge Analytica, empresa de análise de dados que trabalhou na campanha política do Republicano Donald Trump em 2016, estão prestes a acontecer com a inteligência artificial caso não tenhamos uma maior regulamentação que proteja a privacidade e a autonomia individual.
Quanto ao futuro do trabalho e o aumento da desigualdade social, que são temas emergentes e preocupantes, merecendo um outro artigo dedicado, inevitavelmente sofrerão ainda mais com a automação impulsionada pelo mercado, que levará à perda de empregos em diversos setores, tendo como consequência a instabilidade econômica promotora da estratificação, criando grupos hierarquizados e menos privilegiados. Algo que conhecemos bem, mas em uma escala jamais vista. Se as grandes corporações controlam a tecnologia, elas também controlam quem se beneficia e quem sofre com suas consequências.
Qual Caminho Seguir para uma IA Mais Justa?
Existem algumas medidas essenciais que podemos adotar para evitar que as Big Techs monopolizem a inteligência artificial. Algumas ações cruciais incluem a regulamentação da tecnologia por parte dos governos que, por sua vez, devem promover uma competição leal no mercado, limitando a coleta de dados para garantir uma maior transparência no desenvolvimento e uso de algoritmos. O investimento em pesquisas independentes também seria algo fundamental para evitar que seu rumo seja ditado pelos interesses particulares das Big Techs. Neste caso, é importante ressaltar que tenhamos maturidade suficiente para encarar a realidade que nos rodeia e deixarmos de ser ingênuos quanto às possíveis “cartas abertas” que surjam, pedindo a suspensão de experimentos avançados, assinadas por personalidades e pesquisadores do campo, que demonstram uma falsa preocupação com os limites da IA, enquanto treinam seus próprios modelos em segredo.
A educação e a diversidade devem ser matérias imprescindíveis para a conscientização e promoção de uma IA mais justa e democrática, garantindo a participação ativa no debate sobre o futuro da tecnologia, com suas oportunidades e desafios, permitindo que mulheres, pessoas negras e outras minorias sejam inseridas no seu desenvolvimento.
A difusão responsável da inteligência artificial tem o poder de revolucionar a sociedade de maneiras inimagináveis. Mas para que os benefícios dessa revolução sejam sentidos por todos, é crucial garantir que ela seja guiada por princípios de justiça, equidade e transparência. O monopólio das Big Techs representa uma ameaça a esses princípios, e a sociedade precisa tornar-se um ator incisivo para garantir que a IA seja uma força para o bem comum.
A Sociedade Civil e a Colaboração Internacional
Temos um papel importante a desempenhar na luta contra o monopólio das gigantes da tecnologia. Organizações não governamentais, grupos de defesa do consumidor e ativistas precisam unir-se para pressionar governos por regulamentações mais rigorosas, promover a conscientização sobre os riscos da concentração de poder e apoiar o desenvolvimento de alternativas éticas e mais responsáveis. Além disso, a aplicação da IA é um desafio global que carece de uma colaboração internacional formada por governos, organizações de especialistas, colegiados e comitês de segurança independentes para supervisionar ações, trabalhando em conjunto para fortalecer a democracia, garantir os direitos humanos, o progresso e a justiça social.
Precisamos compreender que inteligência artificial é um caminho só de ida, está moldando o nosso futuro e será capaz de trazer respostas para os mais diversos problemas da humanidade, contudo, podemos também mitigar seus efeitos colaterais, a começar, impondo limites ao controle de monopólio e pavimentando uma saída ética e transparente para que todos possam desfrutar de seu potencial transformador.