Sahel à Beira do Colapso: ONU Adverte que Milhões Serão Deixados com Fome por Falta de Fundos
- Clandestino
- 10 de mai.
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A crise alimentar que assola o Sahel Central e a Nigéria está prestes a atingir níveis dramáticos. O Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA) soou o alarme nesta sexta-feira: a assistência vital — que hoje garante a sobrevivência de milhões — pode ser interrompida já no próximo mês, caso não haja uma mobilização urgente de recursos. A promessa de socorro está escorrendo pelos dedos da comunidade internacional.

Num cenário onde a fome deixou de ser uma ameaça futura para se tornar uma realidade presente, a escassez de financiamento se soma a um coquetel explosivo de guerras locais, deslocamentos em massa, colapsos econômicos e desastres climáticos extremos. A temporada de escassez, tradicionalmente o período mais crítico entre as colheitas, está se antecipando, agravando ainda mais o panorama.
As inundações que devastaram a região em 2024 afetaram mais de seis milhões de pessoas. Agora, sem um aporte emergencial de pelo menos 620 milhões de dólares, o PMA afirma que terá de cortar o fornecimento de alimentos a cerca de dois milhões de pessoas. Entre os afetados, estão refugiados sudaneses no Chade, famílias deslocadas em Burkina Faso, Mali e Níger, além de comunidades inteiras vivendo sob insegurança alimentar crônica na Nigéria.
“Estamos à beira de uma catástrofe humanitária. Sem uma resposta imediata, perderemos vidas — não por falta de comida, mas por falta de compromisso político e recursos”, alertou Margot van der Velden, diretora regional do PMA para a África Ocidental.
A última análise regional de segurança alimentar prevê que, entre junho e agosto de 2025, mais de 52,7 milhões de pessoas — incluindo mulheres grávidas, crianças pequenas e idosos — estarão enfrentando fome aguda. A proporção da população ameaçada pela insegurança alimentar extrema crescerá em mais de 20% nos próximos meses, num ciclo de agravamento que se repete ano após ano.
A região está, segundo a ONU, num estado de “subfinanciamento crônico”. O PMA denuncia que tem sido forçado a escolher entre alimentar uns e abandonar outros — um dilema ético e logístico impiedoso. No Chade, a chegada contínua de refugiados do Sudão tem sobrecarregado comunidades já fragilizadas, alimentando tensões e disputas por recursos mínimos.
Na Nigéria, a combinação de inflação galopante, eventos climáticos extremos e uma crise humanitária prolongada tem arrastado milhões para o abismo. Durante a estação de escassez, estima-se que mais de 33 milhões de nigerianos ficarão sem acesso regular a alimentos, em um dos maiores colapsos alimentares da década.
O PMA trabalha ao lado dos governos locais para redesenhar suas estratégias, mas destaca que sem acesso irrestrito às áreas em crise e sem financiamento emergencial, pouco poderá ser feito. A diretora regional foi direta: “A segurança alimentar é uma questão de segurança nacional. Ignorar essa emergência é abrir as portas para o caos social e geopolítico”.
A fome, que sempre foi politicamente conveniente de se esconder, está agora gritando por atenção. O mundo está sendo chamado a agir — e cada minuto de omissão pode custar milhares de vidas.
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