Schwarzenegger tenta impedir a 3ª Guerra Mundial em ‘FUBAR’, mas, na vida real: que se f*da!
Nesta terça-feira, 20, a Netflix divulgou o trailer da segunda temporada de FUBAR, série estrelada por Arnold Schwarzenegger, aquele mesmo símbolo inflado da masculinidade que por décadas encarnou o soldado 'americano' salvador da pátria, o justiceiro solitário, o mito da força bruta travestida de herói. Desta vez, Luke (seu personagem) e sua equipe precisam se esconder no programa de proteção a testemunhas, dividindo uma única casa, o que gera situações hilárias — ou assim nos vendem. Entre uma explosão e outra, surgem as ameaças: Greta (Carrie-Anne Moss), a nova vilã, e seu capanga charmoso estão prestes a iniciar a Terceira Guerra Mundial. E é aqui que mora a ironia. Durante décadas, Hollywood nos empurrou guerras como aventuras empolgantes. Foi lá que nasceu o mito do Capitão América vencendo o nazismo, enquanto na vida real, o fascismo florescia em diversos cantos do mundo, inclusive em alianças bem reais de Washington. Foi lá que o Incrível Hulk, símbolo da violência descontrolada, “vingava” os Estados Unidos no Vietnã, como se tivesse sido possível apagar um dos maiores crimes de guerra do século com socos e efeitos especiais. Ao mesmo tempo, tudo que Los Angeles produziam eram estórias com os vilões – sempre – russos, iranianos, chineses e árabes; ou os latinos traficantes vinculados com cartéis operando junto ao governo cubano, e sem contar que transformaram o corpo da mulher latina em um produto, cuja na maioria das vezes, retratadas como putas viciadas. Desculpem as palavras amargas, mas o ódio é legítimo, ainda mais considerando que jamais nos retrataram – nós, meros mortais do 'terceiro mundo' – como o que realmente somos: trabalhadores, pessoas comuns tentando sobreviver e ao mesmo tempo lutando de verdade contra tudo e contra todos para parar de vez com os massacres que FAKEwood reproduz em forma de entretenimento. E agora, com ares de sátira e heroísmo renovado, querem nos fazer rir de um grupo de agentes que tenta impedir uma guerra que, sejamos francos, já está em curso. Schwarzenegger, o salvador do mundo. Porque a Terceira Guerra Mundial não virá como no trailer: com um botão vermelho, uma bomba reluzente e um vilão rindo em câmera lenta. Ela está acontecendo tanto na vida real, como Gaza, Sudão, Haiti, RDC e tantos outros para listar, mas também, nas trincheiras digitais, nas campanhas de desinformação, nos campos de batalha terceirizados e, principalmente, nas mentes moldadas por décadas de filmes e séries que glorificaram o soldado americano enquanto demonizavam qualquer ideia de reflexão ou ciência. Por que não fazem um filme com a verdade: o ocidente, quase sempre liderado pelo maldito presidente do Estados Unidos da América, é sempre o maior dos vilões... Será que a verdade venderia? Quantos jovens foram seduzidos por essa estética da guerra cool? Quantos se alistaram em legiões estrangeiras, como a dos mercenários na Ucrânia, levados por uma ideia vaga de heroísmo que aprenderam com Rambo, com G.I. Joe, com o próprio Schwarzenegger? Quantos entendem realmente o que estão combatendo — ou contra quem? Hollywood, com sua indústria bilionária, há muito deixou de ser apenas entretenimento. É uma máquina de narrativa que fabrica consentimento, normaliza a ocupação, higieniza a violência imperialista e ridiculariza o pensamento crítico. Enquanto nos distrai com músculos e piadas, contribui para o fortalecimento de uma guerra global, silenciosa, mediática e, talvez a mais perigosa: a guerra contra a consciência. FUBAR não é apenas uma série de ação. É a continuação de um projeto de dominação cultural, de criação de mitos, de venda de ilusões. Gostaría de saber, até quando vamos nos admirar com os fortões sem camisa, e seguir colocando os cientistas, os pensadores, os que duvidam, no papel de vilões? A verdadeira batalha não está em impedir a próxima guerra. Ela está em perceber que já estamos dentro dela. E que o inimigo pode não estar com um uniforme, mas com um roteiro, uma câmera e uma audiência global.
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