Um texto corajoso e necessário: Isabelle Lourenço desmonta o falso panafricanismo da AES
- Mohammed Hadjab
- há 9 horas
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O texto de Isabelle Lourenço é um raro exercício de lucidez e coragem ao denunciar a farsa dos regimes da Aliança dos Estados do Sahel (AES), que se dizem anticolonialistas enquanto apenas trocam de patrono. Expulsar a França para abrir as portas ao grupo Wagner — expressão brutal do imperialismo russo — não é libertação, é submissão. Reprimir a oposição, proibir partidos, censurar a imprensa e instrumentalizar o combate ao terrorismo: nada disso tem a ver com soberania popular ou com um verdadeiro projeto panafricanista.

Cabe aqui destacar, por minha parte, a hipocrisia de atacar a Argélia — país que acolhe refugiados desses regimes, perdoou mais de 1,4 bilhão de dólares em dívidas de países africanos, enviou 400 mil vacinas ao Mali, e pratica uma solidariedade concreta. Ainda assim, é tratada como inimiga, enquanto esses mesmos governos estreitam laços com o Marrocos — o Estado mais alinhado ao Ocidente e às potências imperialistas do continente.
Também é minha a crítica a setores da esquerda brasileira e a certos movimentos "panafricanistas" que exaltam Ibrahim Traoré como um novo Sankara, apenas por ter o mesmo posto militar, idade e nacionalidade. Uma comparação vazia, feita por quem mal conhece o legado de Sankara.
O texto de Isabelle Lourenço é, acima de tudo, um alerta. O verdadeiro panafricanismo não pode ser construído sobre autoritarismo e alianças oportunistas. Ele exige compromisso ético, soberania real e solidariedade entre os povos — não discursos vazios.
Trata-se de um projeto sério, popular, solidário e profundamente ético. Num momento em que o discurso anticolonial é instrumentalizado para legitimar o inaceitável, Isabelle Lourenço devolve ao pensamento crítico o seu fio cortante — e à África a sua dignidade e complexidade.
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