Carta de Che Guevara em memória de Camilo Cienfuegos
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Camilo Cienfuegos Gorriarán nasceu em 6 de fevereiro de 1932, no bairro de Lawton, em Havana, filho de imigrantes espanhóis de origem humilde. Desde jovem, mostrou inquietação política e sensibilidade social — traços que o levariam a se tornar uma das figuras mais carismáticas e queridas da Revolução Cubana. Trabalhando como aprendiz de alfaiate, Camilo cresceu testemunhando as desigualdades que marcavam a Cuba pré-revolucionária, governada por Fulgêncio Batista e subordinada aos interesses dos Estados Unidos. Em 1953, foi ferido durante uma manifestação estudantil contra a repressão policial, o que o obrigou a exilar-se nos Estados Unidos e no México. Foi no exílio mexicano que seu destino se cruzou com o de Fidel Castro, Ernesto Che Guevara e outros jovens idealistas que planejavam derrubar a ditadura.

Na montanha, destacou-se por sua coragem, simplicidade e proximidade com os camponeses. Seu sorriso constante, o senso de humor e a ausência de vaidade o transformaram em símbolo popular. Ascendeu rapidamente nas fileiras revolucionárias, tornando-se comandante de coluna e um dos líderes mais respeitados do Exército Rebelde. Em 1958, Camilo liderou a ofensiva sobre a província de Las Villas, coordenando a tomada de cidades estratégicas e o cerco final a Havana. Sua operação coincidiu com o avanço de Che Guevara em Santa Clara — juntos, selaram a queda do regime de Batista em janeiro de 1959.
Com o triunfo da revolução, Cienfuegos assumiu o comando do Exército Rebelde e manteve um papel central na reorganização das forças armadas. Mesmo no poder, conservou sua postura modesta e acessível, tornando-se um herói do povo.
Em 12 de novembro de 1959, Fidel Castro fez um pronunciamento oficial na televisão cubana sobre o desaparecimento de Camilo Cienfuegos. Segundo o líder revolucionário, no dia 28 de outubro, data em que o avião de Camilo sobrevoaria o centro da ilha, uma forte tempestade atingia a região, o que pode ter sido decisivo para o desaparecimento. Fidel explicou que a tempestade se estendia desde Ciego de Ávila até Matanzas, abrangendo toda a província de Las Villas. Sua principal hipótese era a de que, ao tentar desviar-se da tempestade, o piloto teria alterado a rota em direção ao norte da ilha. Como consequência dessa mudança imprevista de trajeto, o combustível da aeronave possivelmente não foi suficiente para alcançar um ponto seguro de pouso, levando o avião a cair no mar. Desde então, seu nome se tornou sinônimo de pureza revolucionária e lealdade. Todos os anos, crianças cubanas lançam flores ao mar em sua homenagem — um gesto que mantém viva a lembrança do “Homem do Chapéu de Palha”, símbolo de uma revolução feita também de ternura e humanidade.
A Camilo…
Este trabalho pretende colocar-se sob a invocação de Camilo Cienfuegos, que deveria lê-lo e corrigi-lo, mas cujo destino impediu de realizar esta tarefa. Todas estas linhas e as que seguem podem se considerar como uma homenagem do Exército Rebelde a seu grande Comandante, ao maior chefe de guerrilhas que deu esta revolução, ao revolucionário sem defeitos e ao amigo fraterno.
Camilo foi o companheiro de cem batalhas, o homem de confiança de Fidel nos momentos difíceis de guerra e o lutador abnegado que fez sempre do sacrifício um instrumento para temperar seu caráter e forjar o da tropa. Creio que teria aprovado este manual, produtos da onde se sintetizam nossas experiências guerrilheiras, por que são as mesmas vidas, mas ele deu à armação das palavras aqui exposta a vitalidade essencial de seu temperamento, da sua inteligência e da sua audácia, que só se conseguem em medida tão exata em certos personagens da história.
Porém não há que se ver Camilo como um herói isolado, realizando façanhas maravilhosas ao impulso do seu gênio, e sim como uma parte mesma do povo que o formou, como forma seus heróis, seus mártires ou seus líderes na seleção imensa da luta, com a rigidez das condições sob as quais se efetuou.
Não sei se Camilo conhecia a máxima de Dalton sobre os movimentos revolucionários, “audácia, audácia e mais audácia”; de todas as maneiras, a praticou com sua ação, dando-lhe mais o condimento de outras condições necessárias ao guerrilheiro: a análise precisa e rápida da situação e a meditação antecipada sobre os problemas a resolver o futuro.
Ainda que estas linhas, que servem de homenagem pessoal e de todo um povo a nosso herói, não tenham o objetivo de fazer sua biografia ou de relatar suas piadas, e Camilo era o homem disto, pois com naturalidade criava inúmeras piadas. É que unia à sua desenvoltura e seu apreço pelo povo, sua personalidade; isso que as vezes se esquece ou se desconhece, que imprimia a marca de Camilo em tudo que lhe pertencia; o distintivo precioso, que tão poucos homens conseguem deixar marcado em cada ação. Disse Fidel: “não tinha a cultura dos livros, tinha a inteligência natural do povo, que o havia eleito entre muitos para coloca-lo no lugar privilegiado onde chegou, com golpes de audácia, com coragem, com inteligência e devoção sem pares”.
Camilo praticava a lealdade como uma religião; era devoto dela; tanto da lealdade pessoal para com Fidel, que encarna como ninguém a vontade do povo, como a deste mesmo povo; povo e Fidel marcham unidos, assim como marchavam as devoções do guerrilheiro invicto.
Quem o matou?
Poderíamos perguntar melhor: Quem liquidou com seu ser físico? Por que a vida de homens como ele tem a sua duração no povo; não acaba enquanto este não o ordene.
Foi o inimigo que o matou, porque queria sua morte, o matou porque não há aviões seguros, porque os lotos não podem adquirir toda a experiência necessária, porque sobrecarregado de trabalho, que ria estar em poucas horas em Havana… matou-o seu caráter, Camilo não media o perigo, o utilizava como uma diversão, jogava com ele, toureava-o, o atraía e o manejava; em sua mentalidade de guerrilheiro não podia uma nuvem deter ou torcer uma linha traçada.





























































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