Comunismo e Ditadura - Mao Tsé-tung
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Em sua palestra em Changsha, Russell (1) se posicionou em favor do comunismo, mas contra a ditadura dos trabalhadores e camponeses. Ele disse que deveria ser empregado um método educativo para mudar a consciência das classes opressoras e que, dessa forma, não seria necessário limitar a liberdade ou recorrer ao derramamento de sangue em uma guerra revolucionária. Minha objeção ao ponto de vista de Russell pode ser resumida em poucas palavras: isso tudo é muito bonito na teoria, mas é inviável na prática. Educação requer dinheiro, pessoas e ferramentas.

No mundo de hoje, o dinheiro está inteiramente nas mãos dos capitalistas. Aqueles que possuem o comando da educação são ou capitalistas ou esposas de capitalistas. No mundo de hoje, as escolas e a imprensa, os dois instrumentos mais importantes de educação, estão inteiramente sob o controle dos capitalistas. Em suma, a educação do nosso mundo é a educação capitalista. Se ensinarmos o capitalismo para as crianças, estas crianças, quando crescidas, irão ensinar o capitalismo para a segunda geração. A educação seguirá, então, permanecendo nas mãos dos capitalistas. E então os capitalistas terão seu parlamento para passar as leis que protegerão a sua classe e que deixarão em desvantagem o proletariado; terão o seu governo, que aplicará as suas leis e forçará as proibições e desvantagens que virão em sequência. Eles possuem exércitos e polícia para defender o bem-estar dos capitalistas e reprimir as demandas do proletariado. Eles possuem bancos para servirem de repositórios na circulação de sua riqueza. Eles possuem fábricas, que são os instrumentos com os quais monopolizam a produção de mercadorias. Portanto, se os comunistas não conquistarem o poder político, não serão capazes de encontrar qualquer refúgio nesta terra.
Como, então, diante dessas circunstâncias, poderiam eles comandar a educação?
Assim, os capitalistas continuarão controlando a educação e glorificando o capitalismo nas alturas, fazendo com que o número de convertidos para a propaganda proletária comunista diminua dia após dia. Consequentemente, acredito que esse método educativo seja inviável. Este é o meu primeiro argumento. O segundo é que, baseado no princípio do hábito e na minha observação da história humana, sou da opinião de que não se pode esperar que os capitalistas se tornem comunistas...
Se alguém quiser usar o poder transformador da educação nessas pessoas, não terá de forma alguma o controle de todo o aparato e nem mesmo de alguma parte importante desses dois instrumentos de educação — escolas e imprensa — mesmo que tenha uma boca e uma língua e duas escolas e dois jornais como meios de propaganda. Nada disso será suficiente para mudar a mentalidade dos capitalistas, nem que ligeiramente. Como, então, pode alguém esperar que esse último possa passar para o nosso lado? Isto é demais do ponto de vista psicológico.
Do ponto de vista histórico, observa-se que nenhum déspota militar e imperialista, no curso da história, jamais ficou conhecido por deixar as coisas acontecerem livremente sem ter sido derrubado pelo povo. Napoleão I se proclamou imperador e falhou. O mesmo com Napoleão III. Yuan Shikai falhou, e o mesmo aconteceu com Duan Qirui. Com o que tenho dito, e baseado nos pontos de vista psicológico e histórico, pode-se notar que o capitalismo não poderá ser derrubado pela força de esforços tão fracos no domínio da educação.
Este é o segundo argumento. Ainda há um terceiro, na realidade o mais importante: se usarmos meios tão pacíficos para obter o objetivo do comunismo, quando é que iremos obtê-lo? Vamos assumir que será necessário um século — um século de eterna agonia do proletariado. Qual posição deveríamos tomar diante dessa situação? O proletariado é muitas vezes maior que a burguesia; se assumirmos que o proletariado constitui dois terços da humanidade, então um bilhão dos um bilhão e meio de habitantes são trabalhadores (temo que esse número seja muito maior), os quais, durante esse século, serão cruelmente explorados pelo restante dos capitalistas. Como poderemos aguentar isso? Além do mais, desde que o proletariado tem se tornado consciente do fato de que também deveria possuir a riqueza, e do fato de que o seu sofrimento é desnecessário, o proletariado tem se encontrado descontente; a demanda por comunismo tem surgido e se tornado um fato. Este fato nos confronta, e nós não podemos fazê-lo desaparecer. Conscientes disso, nos colocamos a agir. Esta é a razão, na minha opinião, da Revolução Russa e dos comunistas de cada país crescerem a cada dia, de maneira mais numerosa, poderosa e organizada. É um resultado natural. Este é o meu terceiro argumento.
Há outro ponto em relação às minhas dúvidas acerca do anarquismo. Meu argumento pertence não meramente à impossibilidade de uma sociedade sem forma de poder ou organização. Eu gostaria de mencionar apenas as dificuldades no estabelecimento de tal forma de sociedade e de sua realização. Por todas as razões mencionadas, minha visão presente acerca do liberalismo, do anarquismo e até mesmo da democracia é que estas coisas são belas na teoria, mas não na prática.
(1) Bertrand Russell. Filósofo britânico. Realizou uma palestra na cidade de Changsha, capital da província de Hunan, em uma conferência educativa em outubro de 1920 antes de sua agenda oficial em Pequim. (



































































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