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Sudão do Sul enfrenta impactos severos das mudanças climáticas com perdas humanas, culturais e econômicas

  • Foto do escritor: Clandestino
    Clandestino
  • 12 de mai.
  • 3 min de leitura

As chuvas intensas que atingiram o Sudão do Sul nos últimos meses provocaram inundações de grandes proporções, afetando severamente a vida de milhares de pessoas. Uma das consequências mais dramáticas foi a perda de rebanhos – cabras, bois e outros animais –, considerados essenciais tanto para a subsistência quanto para a preservação de práticas culturais locais, como casamentos e rituais comunitários.



Dray, Luke. Mulheres caminham ao longo de um dique que protege deslocados internos e a comunidade anfitriã de inundações. Bentiu, Sudão do Sul. arquivo
Dray, Luke. Mulheres caminham ao longo de um dique que protege deslocados internos e a comunidade anfitriã de inundações. Bentiu, Sudão do Sul. arquivo


Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o agravamento das condições climáticas extremas está comprometendo o desenvolvimento socioeconômico em várias regiões da África, ampliando os índices de insegurança alimentar, deslocamento populacional e vulnerabilidade estrutural. A entidade apontou que a temperatura média do continente em 2024 ficou 0,86°C acima da média histórica de 1991 a 2020, sendo o Norte da África a área mais afetada pelo aquecimento, com um aumento de 1,28°C.


Além disso, o aquecimento das águas ao redor do continente bateu recordes. Ondas de calor marinhas foram registradas em quase todos os litorais africanos, com intensidade classificada como forte, severa ou extrema, especialmente no Atlântico tropical e no Mar Mediterrâneo.


A OMM também destacou a atuação do fenômeno El Niño entre 2023 e início de 2024, alterando os padrões de precipitação e contribuindo para eventos extremos simultâneos: secas prolongadas em países como Malawi, Zâmbia e Zimbábue, e inundações devastadoras em outras regiões.



Yusuf Yassir. Homem com camisa de manga comprida preta e branca segurando um bastão vermelho. Sudão, arquivo.
Yusuf Yassir. Homem com camisa de manga comprida preta e branca segurando um bastão vermelho. Sudão, arquivo.


No caso específico do Sudão do Sul, mais de 300 mil pessoas foram afetadas pelas enchentes de outubro passado. O impacto foi especialmente severo em um país com população de cerca de 13 milhões, infraestrutura precária e uma economia fragilizada, fortemente dependente das exportações de petróleo – setor que também sofre com os efeitos da guerra no vizinho Sudão. Com as vias rodoviárias comprometidas, agências como o Programa Mundial de Alimentos têm recorrido a operações aéreas para levar suprimentos, o que encarece ainda mais a resposta humanitária.


A escassez de recursos e a frequência dos eventos extremos estão dificultando o cultivo agrícola e forçando comunidades inteiras a depender novamente da ajuda internacional. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), cerca de 30 a 34 milhões de cabeças de gado foram afetadas, intensificando os riscos de fome e doenças ligadas à água parada.


A situação educacional também se agravou. Em março de 2024, escolas foram fechadas no Sudão do Sul por causa das temperaturas que atingiram 45°C. Estima-se que 242 milhões de estudantes em todo o mundo foram impactados por eventos climáticos extremos no último ano – um número significativo concentrado na África Subsaariana, segundo o UNICEF.


Em resposta, iniciativas de adaptação têm sido implementadas em algumas regiões. Em Kapoeta, no sul do país, a FAO tem desenvolvido estratégias de colheita e armazenamento de água para mitigar os efeitos das secas. Tais soluções, embora pontuais, têm reduzido a duração dos períodos sem chuvas de seis para dois meses em determinadas áreas.


Cientistas alertam, contudo, que medidas mais estruturais são urgentes. A dessalinização, por exemplo, é vista como uma alternativa pouco viável para muitos países africanos devido a seus altos custos e complexidades ambientais. Investimentos em sistemas de alerta precoce, infraestrutura resiliente e políticas públicas de mitigação e adaptação são apontados como caminhos mais realistas.


Para a comunidade científica, os efeitos das mudanças climáticas sobre a África evidenciam a necessidade de uma resposta global mais equitativa. Embora o continente seja um dos que menos contribui para as emissões de gases de efeito estufa, é um dos mais atingidos por suas consequências. Como ressaltou o pesquisador Dawit Solomon, da iniciativa AICCRA (Impacts of CGIAR Climate Research for Africa), a África está arcando com um ônus climático desproporcional, enfrentando riscos múltiplos sobre uma base econômica já enfraquecida.



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