Brasileira trans é presa em ala masculina em Guantánamo
- Clandestino
- há 4 dias
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Uma mulher trans brasileira permanece detida nos Estados Unidos após pedir asilo político, sendo submetida a violações sistemáticas de direitos humanos, incluindo sua custódia na ala masculina da prisão militar de Guantánamo, em Cuba.

Tarlis Marcone de Barros Gonçalves chegou aos EUA em 15 de fevereiro, cruzando a fronteira com o México próximo a El Paso, no Texas. Detida imediatamente por autoridades de imigração, ela buscava refúgio, alegando temer por sua vida no Brasil. “Um agente me perguntou se eu assinaria uma ordem de deportação, mas recusei porque temo ser morta no meu país”, relatou em depoimento judicial.
Logo após a detenção, Tarlis foi levada ao Centro de Processamento do Condado de Otero, no Novo México. Lá, ficou até o final do mês em uma ala com cerca de 50 homens, mesmo tendo informado às autoridades que é uma mulher transgênero. Segundo ela, seus apelos por segurança e dignidade foram ignorados. “Fui alvo de assédio nos corredores e na cela. Disse que me sentia em risco, mas ninguém fez nada”, declarou.
A situação agravou-se no início de março, quando foi algemada e embarcada, sem explicações, em um avião militar. Somente após o pouso descobriu que estava em Guantánamo, local símbolo de abusos e detenções ilegais no pós-11 de Setembro. Novamente, foi colocada em um quarto com outros cinco homens. “Fui tratada como um homem. Repeti que não me sentia segura, mas fui ignorada”, disse.
Além da violência institucional e da negligência com sua identidade de gênero, Tarlis denuncia a constante falta de privacidade, o racionamento de comida e os abusos por parte de guardas do sexo masculino, que realizavam revistas em seu corpo. Sem acesso regular à família ou a advogados, ela afirma ter feito inúmeros pedidos para entrar em contato com o mundo exterior — todos negados.
Atualmente, Tarlis está presa em uma cela isolada no centro de detenção de Pine Prairie, na Louisiana. Ela segue aguardando o andamento de seu pedido de asilo e teme uma possível deportação. “Só quero viver com dignidade e segurança. Tenho medo de ser assassinada se for devolvida ao Brasil. Gostaria de poder contar minha história e estar com minha família em paz.”
O caso escancara a face mais brutal do sistema migratório dos EUA e denuncia o tratamento desumano imposto a pessoas trans, sobretudo aquelas que vêm do Sul Global. Enquanto discursos oficiais exaltam a liberdade, os subterrâneos da fronteira revelam outro lado: o de um império que pune quem ousa sobreviver.