top of page

Haiti colapsa sob violência de gangues, repressão estatal e deportações em massa

O Haiti vive um colapso silencioso, alimentado pela escalada da violência armada, abusos sistemáticos das forças de segurança e deportações em massa da República Dominicana. Entre janeiro e março de 2025, ao menos 1.617 pessoas foram assassinadas e 580 ficaram feridas, segundo o Escritório Integrado das Nações Unidas no Haiti (BINUH). A barbárie inclui ataques de gangues, execuções por grupos de autodefesa e mortes em operações policiais — com civis no meio do fogo cruzado.





A capital Porto Príncipe e suas comunas vizinhas, como Pétion-Ville, Delmas e Kenscoff, tornaram-se zonas de guerra urbana. Grupos armados disputam o controle de territórios e rotas estratégicas. Em Mirebalais e Saut d’Eau, no departamento do Centro, os ataques visaram diretamente as estradas de acesso à República Dominicana — facilitando a fuga de mais de 500 presos da penitenciária de Mirebalais.


Enquanto isso, o movimento popular 'Bwa Kalé' — que surgiu como resposta espontânea da população à presença das gangues — também se tornou fonte de terror: pelo menos 189 pessoas foram mortas por linchamentos, sem julgamento, sob a acusação de envolvimento com o crime.


As forças estatais, longe de conter o caos, aprofundam a crise. A ONU aponta 802 mortes em operações policiais, sendo 20% civis atingidos por balas perdidas, além de 65 execuções sumárias atribuídas a policiais e ao próprio comissário do Governo de Miragoâne. A brutalidade se soma à paralisia do sistema judicial — que agora tenta reagir com a criação de unidades especializadas em crimes de massa, violência sexual e corrupção, ainda sem resultados visíveis.


A crise também tem um rosto feminino e infantil: ao menos 333 mulheres e meninas sofreram violência sexual, 96% das quais foram estupradas, majoritariamente por gangues. Crianças são vítimas duplas: 35 foram mortas e 10 feridas, enquanto outras são recrutadas à força ou traficadas.


E se a violência não basta, as fronteiras completam o cerco. Com a intensificação das deportações promovidas pela República Dominicana, cerca de 20 mil haitianos foram devolvidos apenas em abril, o maior número do ano. Mulheres grávidas e lactantes cruzam a fronteira com fome e sem assistência, enquanto mais de 15 mães por dia recebem atendimento emergencial em pontos como Belladère e Ouanaminthe.


O cerco humanitário se fecha: a violência em Mirebalais e Saut d’Eau já forçou mais de 51 mil pessoas a fugirem, sendo que 12.500 estão em abrigos improvisados sem água, comida ou segurança. A cidade de Belladère está sitiada: o controle das gangues bloqueia o acesso a medicamentos, suprimentos e ajuda internacional.


Diante da emergência, a OIM e a Direção de Proteção Civil tentam manter a linha de frente — com distribuição de kits de higiene, primeiros socorros, apoio psicossocial e até hospedagem emergencial para mães e bebês. Mas a ajuda já não alcança onde deveria. Como alertou Grégoire Goodstein, chefe da OIM no Haiti:


“A entrega de ajuda está se tornando cada vez mais difícil, pois os atores humanitários estão presos ao lado daqueles que estão tentando ajudar.”

LEIA ON-LINE GRATUITAMENTE OU ADQUIRA UMA DAS VERSÕES DA EDITORA CLANDESTINO.

Todos os arquivos estão disponíveis gratuitamente, porém, ao adquirir um de nossos arquivos, você contribui para a expansão de nosso trabalho clandestino.

ÚLTIMAS POSTAGENS

bottom of page