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Crise na RD Congo obriga refugiados a nadar até o Burundi para salvar suas vidas

O fluxo de refugiados que fogem da violência no leste da República Democrática do Congo (RDC) em direção ao Burundi segue em crescimento, sufocando as já debilitadas estruturas de acolhimento humanitário. Em meio à negligência internacional e ao desmonte das agências de ajuda, a tragédia avança à margem do noticiário global.



©Alvaro Ybarra. Arquivo
©Alvaro Ybarra. Arquivo


“Estamos sendo levados ao limite”, declarou Ayaki Ito, diretor de Emergências do ACNUR, expondo o colapso iminente das operações de socorro. Em uma cena que sintetiza o desespero, uma mãe improvisou uma balsa com plástico para cruzar com seus três filhos o rio Rusizi, infestado de crocodilos e hipopótamos. Uma travessia de 100 metros separa a vida da morte — ou talvez apenas dois modos diferentes de abandono.


Mais de 71 mil pessoas cruzaram a fronteira desde janeiro, fugindo da escalada de violência entre forças governamentais congolesas e o grupo rebelde M23, respaldado pelo governo de Ruanda. Desses, apenas cerca de 12.300 foram realocados para o campo de Musenyi, um espaço concebido para 3.000 pessoas que hoje abriga 16.000. A superlotação transformou a fuga em nova prisão: alimentos racionados, tendas inundadas, doenças à espreita.


“A comida que temos já foi reduzida à metade. E isso se esgota até o fim de junho, se nada mudar”, alerta Ito. O colapso não se restringe à nutrição: saneamento básico, escolas, clínicas — tudo ou está ausente ou à beira do esgotamento. Mulheres e meninas foram privadas até de kits de higiene básica. Quase 11 mil seguem sem acesso ao mínimo para preservar sua dignidade.


A precariedade se estende ao desaparecimento de serviços de proteção. O rastreamento familiar foi drasticamente reduzido, dificultando a reunificação de crianças separadas de seus pais. Espaços seguros para mulheres e crianças também desapareceram. Enquanto isso, os relatos de violência sexual na região aumentaram 60%, com predominância de estupros cometidos na RDC.


Sem alternativa, muitos refugiados voltam ao país de origem, empurrados pelas condições insuportáveis no Burundi. A ONU denuncia que quase metade dos recém-chegados já haviam buscado abrigo no país antes — vítimas de um ciclo de deslocamento e retorno que revela a falência do sistema internacional de proteção.


Em campo, as equipes de ajuda executam uma resposta de emergência em larga escala com recursos cada vez menores. “O equilíbrio é insustentável. Precisamos escolher entre manter o pouco que temos ou fechar as portas para quem ainda virá”, finalizou Ito.

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