Zuckerberg: A fraqueza de um macho ferido se mostra na opressão dos vulneráveis / por Zina Covesi
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- 8 de jan.
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A decisão de Mark Zuckerberg, fundador da Meta (empresa que engloba plataformas como Facebook, Instagram e Threads), de retroceder em relação aos conceitos de gênero e orientação sexual, pode ser interpretada como uma reação de fragilidade e temor em relação ao avanço de mulheres e à comunidade LGBT+ em diversas esferas sociais. Ao flexibilizar as diretrizes das redes sociais, permitindo discursos de ódio que associam a comunidade LGBT+ e as mulheres a termos capacitistas como "deficientes mentais", a decisão de Zuckerberg não apenas deslegitima essas vozes, mas também reforça a tentativa do silenciamento de figuras políticas de destaque que estão ganhando espaço nas discussões políticas, públicas e educacionais.
Essa situação expõe uma estratégia deliberada para apagar vozes progressistas e garantir que o status quo não seja desafiado.
A Meta, ao flexibilizar suas políticas contra discursos de ódio, não só enfraquece o ambiente de inclusão, como também permite o crescimento de uma narrativa prejudicial que coloca em risco a segurança física e emocional de pessoas trans, mulheres e outros grupos marginalizados que já lideram a escala da violência.
O caso de Érica Hilton, por exemplo, é emblemático. Como uma mulher trans que se tornou uma das figuras políticas mais reconhecidas do Brasil, ela exemplifica a força das vozes que têm surgido no cenário político, oferecendo um contraponto necessário a um sistema político tradicionalmente dominado por figuras cisgêneras e masculinas. Ao permitir que conteúdos de ódio e discriminação proliferem nas redes sociais, Zuckerberg não só está permitindo a propagação de ideias perigosas, mas também deslegitimando as lutas por direitos e igualdade de pessoas que, até então, encontravam nesses espaços um meio para amplificar suas vozes.
Este ano (2024), 26 candidatos transgênero foram eleitos. Desses, 25 são mulheres trans e travestis e um homem transgênero, todos para o posto de vereador. O levantamento foi divulgado nesta segunda-feira (07) pela ANTRA, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais.
Das mulheres trans eleitas, 11 delas foram as candidatas mais votadas das respectivas cidades. Cinco municípios, inclusive, têm mulheres trans como a única mulher eleita para ocupar a Câmara dos Vereadores. (Fonte Agencia Brasil EBAC 07/10/24)
Estamos falando de um país com o maior índice de mortes de pessoas trans no mundo. O Brasil, como um dos maiores países da América Latina, tem sido marcado por episódios recorrentes de violência contra pessoas trans, que enfrentam assassinatos, e uma série de agressões físicas e psicológicas em suas rotinas diárias. A decisão da Meta, ao permitir e até encorajar discursos de ódio contra essa comunidade, contribui para um ambiente ainda mais hostil, onde a violência se perpetua através das palavras. Esse tipo de discurso não se limita apenas ao campo das redes sociais, mas reverbera no mundo real, criando um ciclo vicioso de agressão e marginalização.
Além disso, o Brasil também é um dos países com taxas alarmantes de feminicídio, a morte de mulheres pelo simples fato de serem mulheres. A violência contra as mulheres é uma realidade que atinge todas as classes sociais, com mulheres de diferentes etnias e idades enfrentando a brutalidade de um sistema patriarcal e misógino que, por muito tempo, as manteve em silêncio. A atitude de Zuckerberg ao permitir que os discursos de ódio se espalhem sem controle nas redes sociais reforça uma estrutura de poder que favorece a violência contra mulheres, trans e outros grupos marginalizados, criando um ambiente onde tais agressões são muitas vezes minimizadas, se não mesmo incentivadas.
O impacto disso vai além das questões sociais e políticas, afetando diretamente os direitos de cada indivíduo. A liberdade de expressão não pode ser usada como justificativa para a disseminação de ódio e desinformação, ainda mais em uma era onde as redes sociais têm um papel central na formação da opinião pública. O fato de uma figura pública como Mark Zuckerberg, com um alcance global, tomar decisões que favorecem a proliferação de conteúdos prejudiciais, demonstra como grandes corporações podem, de maneira sutil, mas eficiente, manipular a opinião pública e silenciar aqueles que lutam pela inclusão e pelos direitos humanos.
Há uma clara conexão entre o aumento da visibilidade da comunidade LGBT+ e das mulheres em diversas esferas da sociedade e o crescente desconforto de grupos conservadores que veem suas posições ameaçadas. O avanço dessas minorias em espaços políticos e sociais tem sido uma verdadeira revolução, mostrando que é possível alterar as dinâmicas de poder que há muito tempo foram estabelecidas. A resistência a essas mudanças é um reflexo do medo de perder privilégios que, por gerações, estiveram nas mãos de um pequeno grupo de pessoas. É nesse contexto que se insere a decisão da Meta, que parece mais uma tentativa de silenciar essa transformação e impedir que mulheres e membros da comunidade LGBT+ ocupem os espaços que, por direito, lhes pertencem.
No entanto, é fundamental compreender que a violência não é exclusividade de homens comuns ou criminosos. Bilionários, como Zuckerberg, também podem ser responsáveis por ações que resultam em mortes e violações de direitos. Eles têm o poder de moldar a sociedade de maneiras sutis, mas profundas, influenciando o comportamento de milhões de pessoas ao redor do mundo. Sua decisão de flexibilizar as políticas de moderação de conteúdo nas redes sociais não é apenas uma falha de julgamento, mas uma ação que contribui diretamente para o aumento da violência e da discriminação contra pessoas trans, mulheres e outras minorias.
Esse cenário revela uma realidade dolorosa, mas que não pode ser ignorada: o sistema em que vivemos favorece aqueles que detêm o poder econômico e político. Ao permitir que conteúdos de ódio sejam disseminados sem restrições, Zuckerberg e outros bilionários estão, contribuindo para um ambiente onde as vidas das mulheres, das pessoas trans e de outras minorias valem menos do que as deles. A perpetuação desse sistema é um atentado contra os direitos humanos e contra a própria ideia de democracia.
A sociedade como um todo precisa se unir para garantir que os avanços conquistados até agora não sejam apagados por atitudes irresponsáveis e perigosas de corporações que têm um poder descomunal. É urgente que se compreenda a necessidade de criar espaços seguros para todos, especialmente para aqueles que, historicamente, foram marginalizados. A decisão de Zuckerberg, ao enfraquecer a proteção contra o discurso de ódio, não pode ser vista apenas como um erro, mas como uma estratégia deliberada de controle social que visa manter o status quo.
A luta, portanto, é constante. A resistência das mulheres e da comunidade LGBT+ é um sinal claro de que os direitos humanos não podem ser comprometidos, independentemente da posição que alguém ocupe no poder. O compromisso com a inclusão e a igualdade de direitos deve ser intransigente, e o apoio àquelas que estão na linha de frente dessa batalha, é essencial para garantir que as vitórias conquistadas até agora não sejam destruídas por aqueles que têm medo do avanço social.



































































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