ONU reconhece que proteção de civis em zonas de conflito está desmoronando
- www.jornalclandestino.org

- 24 de mai.
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ONU alerta para colapso da proteção a civis em conflitos armados e aumento alarmante da violência contra mulheres.
Mais de 36 mil civis foram mortos em 14 conflitos armados no último ano, o mais letal também para trabalhadores humanitários; Conselho de Segurança da ONU discute medidas para reforçar o cumprimento do direito internacional e proteger populações vulneráveis.
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) se reuniu no dia 23 de maio para debater formas de reforçar a proteção de civis em zonas de conflito, diante do agravamento da violência em diversas regiões do mundo. O encontro busca ampliar a eficácia da aplicação das leis internacionais humanitárias e fortalecer mecanismos de responsabilização frente às violações sistemáticas cometidas por diferentes atores em guerras contemporâneas.
Para Tom Fletcher, subsecretário-geral de Assuntos Humanitários, a proteção de civis está ruindo, apesar dos compromissos legais assumidos pelos países e das lições históricas sobre os horrores da guerra. Ele criticou o uso abusivo de interpretações flexíveis da lei por parte de grupos armados, que relativizam conceitos como "alvo legítimo", "dano colateral" e "objetivo militar" para justificar ataques indiscriminados.
Fletcher defendeu ações urgentes como o reforço do diálogo político, a condenação pública de violações, treinamentos mais rigorosos das Forças Armadas e a regulamentação responsável da transferência de armamentos. Segundo ele, a justiça internacional precisa ser imparcial, não seletiva nem sujeita a pressões políticas. “Ataques contra a integridade dos tribunais são inaceitáveis”, afirmou.

Mulheres e meninas sob ataque
Durante a reunião, a diretora-executiva da ONU Mulheres, Sima Bahous, chamou atenção para o impacto desproporcional dos conflitos sobre mulheres e meninas. Atualmente, mais de 612 milhões vivem em zonas de guerra e enfrentam formas específicas de violência.
Bahous denunciou o que chamou de “crise de proteção” envolvendo violência sexual relacionada a conflitos, bem como a negação deliberada de direitos reprodutivos. Ela destacou que, em muitas regiões, os corpos das mulheres são transformados em campos de batalha — vítimas não apenas de estupros, mas também de bombardeios contra maternidades, escassez de suprimentos médicos e cortes orçamentários em saúde.
A chefe da ONU Mulheres pediu que a chamada “violência reprodutiva” seja reconhecida como uma categoria autônoma de violação dos direitos humanos e que os responsáveis sejam processados judicialmente. Segundo a organização, 61% das mortes maternas ocorrem em apenas 35 países afetados por conflitos.

Traumas invisíveis e violência digital
Bahous também abordou os efeitos psicológicos da guerra, alertando para os traumas duradouros vividos por mulheres expostas a deslocamentos forçados, perdas familiares e medo constante. Em Gaza, por exemplo, 75% das mulheres apresentam sintomas de depressão; no Afeganistão, muitas relatam viver como se estivessem em “prisões a céu aberto”.
Mesmo fora do campo de batalha, a violência persiste em espaços digitais. A diretora da ONU Mulheres denunciou o uso de deepfakes, assédio virtual e campanhas de desinformação como formas de silenciar mulheres. Na Ucrânia, 81% das jornalistas afirmam ter sofrido abusos online; no Iêmen, a manipulação de imagens afastou diversas profissionais da imprensa.
Ela reiterou que esse tipo de violência também deve ser encarado como uma ameaça à integridade civil e tratado com a mesma seriedade das demais violações humanitárias.
Armas e tecnologias letais
Em relatório recente entregue ao Conselho de Segurança, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou para o uso crescente de táticas e armamentos que causam “danos inaceitáveis” à população civil. Entre os exemplos citados estão bombas pesadas lançadas em áreas densamente povoadas, armas químicas, munições de fragmentação e minas terrestres.
Guterres destacou que o mundo atualmente convive com mais de 120 conflitos armados, muitos deles marcados pela utilização de novas tecnologias de guerra e pela ausência de mecanismos efetivos de prestação de contas.
O documento reforça a necessidade de revalorizar os princípios da humanidade e da proporcionalidade na condução dos combates, além de restabelecer o respeito ao direito internacional como base mínima para a convivência entre as nações.



































































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