Mudanças climáticas estão silenciando as gigantes do planeta

Pesquisas recentes indicam que as baleias azuis estão cantando menos. Um monitoramento acústico realizado ao longo de seis anos na costa da Califórnia sugere que ondas de calor marinhas e poluição sonora estão silenciando os maiores animais do planeta. Entender o que acontece debaixo d’água pode ser a chave para salvar os oceanos.

©GABRIEL BARATHIEU

No fundo do mar, uma melodia invisível percorre as correntes. Os cantos das baleias, como ecos de metal líquido, ressoam e se misturam ao ruído das águas profundas. Para captá-los, pesquisadores instalaram cabos de mais de 50 quilômetros que ligam a costa californiana a hidrofones fixados a 900 metros de profundidade. Esses microfones subaquáticos registram, por anos, a sinfonia marinha e suas mudanças.

“Quando você passa a ouvir o oceano de verdade, descobre um mundo sonoro impressionante”, afirma Jarrod Santora – oceanógrafo e pesquisador da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA) – em entrevista a National Geographic. Os cientistas utilizam essas gravações para rastrear como a vida marinha reage às pressões humanas, desde o aquecimento global até o tráfego de navios.

Um estudo liderado por John Ryan, do Monterey Bay Aquarium Research Institute, revelou que as baleias azuis reduziram seus cantos em quase 40% durante períodos de escassez alimentar. O monitoramento começou em 2015, ano em que uma onda de calor inédita atingiu o Pacífico, alterando a química da água e provocando florações de algas tóxicas. Jubartes, com dieta mais variada, seguiram cantando; mas as baleias azuis e comuns, dependentes de krill, silenciaram à medida que o alimento sumia.

“É como tentar cantar passando fome”, explica Ryan. “Elas estavam gastando toda a energia apenas para sobreviver.” O silêncio das gigantes revela um oceano em desequilíbrio — e ouvir suas vozes pode ser a solução para protegê-lo.