Tijolo por tijolo, façamos da derrubada do corredor de Rafah o 'Muro de Berlim' de nossa era
- Mohammed Hadjab

- 10 de jun.
- 3 min de leitura
Houve um tempo em que o mundo assistiu à queda do Muro de Berlim, símbolo de opressão, de divisão e da Guerra Fria. Essa vitória histórica da humanidade contra a tirania marcou um passo decisivo na libertação dos povos. Hoje, outro muro, muito mais trágico e mortal, continua a separar vidas, sufocar uma nação e permitir a ocupação ilegal de um território: o corredor de Rafah, na fronteira bloqueada entre o Egito e Gaza. Esse corredor não é apenas uma passagem; tornou-se um instrumento de cerco, um cadeado de morte, uma ferramenta estratégica nas mãos de um Estado israelense supremacista que impõe, há décadas, um regime de colonização e apartheid ao povo palestino. Sua destruição não deve ser vista como provocação, mas como um ato de justiça, um imperativo moral e um dever de solidariedade internacional.

A urgência de uma justiça baseada no direito internacional
Não podemos mais nos contentar com resoluções vazias ou condenações simbólicas. A verdadeira justiça passa pela aplicação concreta do direito internacional, que proíbe a ocupação ilegal, as punições coletivas e a discriminação sistemática. Esse direito é claro: a ocupação de Gaza, assim como da Cisjordânia, é ilegal. O bloqueio, desumano e destrutivo, é ilegal. E mesmo assim, as potências ocidentais continuam vendendo armas a Israel, fornecendo financiamento e proteção diplomática. Chegou a hora de dar um basta. É preciso criar uma força humana, política e militar, formada por voluntários de todas as partes do mundo, para pôr fim a essa cumplicidade global. Uma força que vá além das palavras — que aja.
Mobilização internacional: o único antídoto contra a impunidade
Como já escrevi em um artigo anterior sobre a flotilha "Madleen", somente uma armada invencível, unida, solidária e determinada poderá forçar o fim do bloqueio. Não se trata aqui de um apelo à violência gratuita, mas sim à resistência legítima, a uma ação internacional coordenada. Precisamos de novas flotilhas, mas também de colunas terrestres, brigadas civis e militares vindas de todos os cantos do mundo, cruzando a fronteira entre o Egito e a Palestina para romper o muro de Rafah e abrir o caminho para uma Palestina livre. Nesse sentido, a mobilização que saiu da Argélia ontem, atravessando fronteiras em direção a Rafah em ônibus carregados de coragem e solidariedade, é um exemplo claro e poderoso do que o mundo precisa fazer em escala global. Essa caravana representa mais do que um ato simbólico — ela é um ponto de partida. Um sopro de dignidade que deve ser amplificado e multiplicado. É possível, é urgente, é necessário. Esse muro, como o de Berlim, precisa cair. Enquanto estiver de pé, continuará simbolizando a capitulação da humanidade diante do racismo de Estado, da segregação e da guerra sem fim.

Parar de alimentar a máquina colonial sionista
Também se trata de responsabilidade política. Enquanto governos — especialmente da Europa e da América do Norte — continuarem armando Israel, comerciando com ele, apoiando seu exército e legitimando seus crimes, continuarão cúmplices. É necessário romper totalmente a cooperação militar e de segurança, bem como organizar campanhas de desobediência diplomática e comercial. Só deixando de alimentar a máquina colonial poderemos desativá-la.
Derrubar o corredor de Rafah é abrir passagem não apenas para Gaza, mas para a justiça. É enviar um sinal claro: os povos do mundo não tolerarão mais a impunidade, não desviarão mais o olhar. É homenagear as resistências passadas e honrar as promessas de um futuro liberto. A história nos julgará. Seremos capazes, como em Berlim, de derrubar o muro? Ou deixaremos que Rafah se torne mais uma cova para o direito, a paz e a dignidade humana?
Mohammed Hadjab
Especialista em geopolítica,
Internacionalista


























































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