Maçã podre: dezenas de ex-espiões israelenses contratados por gigante do Vale do Silício
- www.jornalclandestino.org

- 2 de set.
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Nas últimas semanas, a Apple tem chamado atenção por seu discurso em defesa da privacidade e dos direitos humanos, apresentando ferramentas destinadas a conter o avanço da vigilância digital e do spyware. Contudo, por trás da retórica corporativa, há uma realidade muito mais controversa. A empresa tem recrutado discretamente dezenas de veteranos da Unidade 8200 — a mais célebre e polêmica divisão de inteligência militar de Israel, marcada por práticas de espionagem em massa, chantagem e assassinatos seletivos. Esse movimento se intensificou justamente quando a guerra em Gaza escalava, período em que o CEO Tim Cook manifestava apoio público a Israel e reprimia funcionários que se solidarizavam com a causa palestina.

Uma investigação do portal MintPress News revelou que dezenas de ex-agentes da Unidade 8200 hoje ocupam cargos estratégicos dentro da Apple. O fluxo de contratações ocorre em meio ao crescente questionamento sobre a proximidade da companhia com o Estado israelense, já que a multinacional iguala doações de seus empregados a organizações como Friends of the IDF e o Jewish National Fund, ambos acusados de contribuir para o deslocamento de palestinos. Esse alinhamento político, combinado ao acesso da Apple a enormes volumes de dados pessoais de usuários, gera preocupações éticas profundas.
Casos como o de Nir Shkedi ilustram essa conexão. Ex-comandante da Unidade 8200, responsável por equipes que desenvolveram sistemas de inteligência artificial voltados à análise massiva de dados, Shkedi ingressou na Apple em 2022 como engenheiro de design físico. Outro exemplo é Noa Goor, que liderou projetos de segurança cibernética e big data na unidade militar entre 2015 e 2020, e posteriormente foi contratada pela Apple para atuar no desenvolvimento de chips. Já Eli Yazovitsky deixou a unidade em 2015 após quase uma década como gerente e ingressou na empresa como chefe de engenharia.
A presença de tantos veteranos não é casual. A Unidade 8200 funciona como um berçário da indústria tecnológica israelense e é acusada de empregar técnicas de vigilância que incluem coleta de informações médicas e pessoais de palestinos, usadas para chantagem e coerção. O grupo também é apontado como responsável pelo desenvolvimento do software Pegasus, utilizado em escala global para espionar jornalistas, ativistas, líderes políticos e até membros da realeza — incluindo figuras como Jamal Khashoggi, assassinado na Turquia em 2018.
Apesar do histórico controverso, a Apple mantém estreita colaboração com Israel. A empresa comprou startups locais, opera centros de pesquisa no país e emprega milhares de pessoas em território israelense. Tim Cook, por sua vez, já se encontrou publicamente com líderes políticos como Benjamin Netanyahu e recebeu homenagens de instituições pró-Israel, incluindo a Liga Anti-Difamação. Em contraste, funcionários que expressaram apoio aos palestinos foram advertidos ou demitidos.
Vale destacar que a Apple não é exceção. Outras gigantes da tecnologia — Google, Facebook, Microsoft, Amazon e até TikTok — também absorveram inúmeros ex-integrantes da Unidade 8200, alguns dos quais chegaram a ocupar cargos de peso em conselhos de supervisão de conteúdo. Esse padrão de contratações sugere que a visão política e os métodos da unidade estão cada vez mais presentes nas empresas que administram as maiores plataformas digitais do mundo.
Críticos apontam que dificilmente o Vale do Silício aceitaria ex-agentes de inteligência do Irã, da Rússia ou do Hezbollah em posições semelhantes. No entanto, quando se trata de Israel, essa prática é tratada como legítima, mesmo quando parte das contratações ocorre diretamente de militares ainda em serviço ativo.
Assim, o debate não se restringe à Apple, mas ao próprio modelo de integração entre tecnologia ocidental e estruturas de vigilância israelenses. Para movimentos como o Apples4Ceasefire, compostos por ex-funcionários da empresa, a questão central é expor esse duplo padrão e denunciar o risco de que a promessa de “privacidade e segurança” da Apple se torne apenas mais uma peça de marketing.


























































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