Normalização entre Arábia Saudita e Israel levanta riscos políticos, econômicos e estratégicos
- www.jornalclandestino.org

- há 1 hora
- 2 min de leitura
O presidente Donald Trump reforçou em 17 de outubro a expectativa de que a Arábia Saudita se junte aos Acordos de Abraão, reiterando o papel central de Riad no plano de aliança regional liderado pelos EUA e Israel. Para Trump, a entrada saudita poderia desencadear um efeito dominó entre outros países árabes, consolidando um bloco estratégico do Mediterrâneo ao Golfo Pérsico voltado ao que chamou de equilíbrio de poder regional.

Histórico das negociações e obstáculos recentes
Em 2023, negociações mediadas pelos EUA entre Riad e Tel Aviv estavam próximas de um acordo, com o reino buscando garantias de segurança, apoio nuclear civil e acesso a sistemas de defesa avançados. No entanto, a ofensiva israelense em Gaza em outubro de 2023 e a devastação subsequente da região interromperam o processo, forçando a Arábia Saudita a recuar diante da pressão interna e da reação pan-islâmica.
Apesar do retrocesso, interesses estratégicos e econômicos mantêm a possibilidade de normalização. Tanto Israel quanto a Arábia Saudita percebem o Irã e o Eixo da Resistência como adversários centrais. Além disso, o plano Visão 2030 saudita, voltado à diversificação econômica, identifica oportunidades em tecnologia de defesa, segurança cibernética e investimentos israelenses, o que poderia facilitar acordos transacionais liderados pelos EUA.
Riscos estratégicos e morais
A normalização com Israel apresenta riscos significativos. Qualquer acordo que ignore os direitos palestinos poderia comprometer a legitimidade do reino no mundo muçulmano. Grupos do Eixo da Resistência, incluindo Irã, Hezbollah e Ansar Allah, poderiam usar o alinhamento para mobilizar opositores e aumentar tensões militares e diplomáticas na região.
Uma parceria trilateral EUA-Israel-Arábia Saudita teria profundas implicações de segurança, com Israel fornecendo inteligência, Washington garantindo supervisão e Riad financiando operações. Tal arranjo poderia ser interpretado em Teerã como cerco estratégico, acelerando a corrida armamentista regional e pressionando os laços diplomáticos sauditas com China, Rússia e outros parceiros eurasianos.
Integração econômica e tecnológica
A cooperação econômica incluiria fluxos de investimento e parcerias em setores avançados, como inteligência artificial e energias renováveis. Entretanto, especialistas alertam que a dependência de tecnologia israelense e capital ocidental poderia gerar subordinação estrutural e vulnerabilidade econômica, ao mesmo tempo em que exacerba desigualdades internas e limita a autonomia estratégica saudita.
Vigilância e cibersegurança
O alinhamento saudita-israelense prevê integração em cibersegurança, vigilância digital e sistemas de inteligência avançados. Embora projetados para conter ameaças externas, esses recursos também poderiam ser utilizados para monitorar dissidência interna, ampliando o controle governamental sobre a população e gerando tensões com vizinhos como Irã e Catar, que poderiam desenvolver contramedidas cibernéticas próprias.
Caminhos possíveis para Riad
A liderança saudita enfrenta três trajetórias principais: normalização condicional vinculada a avanços na soberania palestina, engajamento gradual sem reconhecimento formal ou manutenção de equilíbrio estratégico mantendo a normalização como moeda de negociação. Cada escolha implica trade-offs entre segurança, prestígio, economia e legitimidade interna e regional.
O avanço da normalização oferece ganhos imediatos, como garantias de segurança e investimentos, mas também pode corroer a credibilidade do reino no mundo árabe, gerar retaliações regionais e consolidar uma arquitetura de segurança percebida como neocolonial. Especialistas alertam que, sem uma abordagem que considere direitos palestinos, o processo será lembrado mais como traição do que como paz.



























































Comentários