O povo palestino é a última centelha de esperança de um mundo em ruínas. Salvá-los é preservar o que nos resta de humanidade
- Siqka

- 31 de mai
- 2 min de leitura
O Que Vale a Pena Salvar?

O que ainda vale a pena salvar quando todas as esperanças parecem ter se esgotado? Como escolher aquele último item a colocar na mala de uma viagem sem retorno? Vivemos em uma sociedade marcada por uma diversidade profunda, mas também por uma desigualdade brutal de valores. Mesmo aqueles que deveriam ser universais, como a dignidade e a compaixão, não são. Em meio ao caos, muitos — demasiadamente muitos — tentariam salvar algo de valor monetário. Vivemos numa sociedade de consumo doente, e você, leitor, certamente consegue pensar em exemplos concretos de pessoas que reagiriam assim.
Como sociedade, estamos doentes. Como espécie, estamos em estado de decomposição. A cada dia que passa, apodrecemos um pouco mais. Me pergunto com frequência: ainda há salvação para o que restou da humanidade? E, na maioria das vezes, a resposta que me vem é sombria. Como chegamos ao ponto de normalizar crianças dilaceradas por bombas? Como aceitamos coletivamente a ideia de bloquear caminhões de alimentos destinados a mulheres, idosos e crianças famintas? Não podemos lavar as mãos — não somos inocentes.
Ontem foram os nazistas, hoje são os sionistas. Amanhã, talvez sejamos nós os carrascos da barbárie. Não, isso não é um exagero. Há pouco tempo, vimos um presidente — eleito pela maioria de nossa sociedade — zombar de pessoas morrendo por falta de ar. E o mais assustador: milhões votaram nesse mesmo indivíduo novamente, e não veem a hora de repetir o feito. Isso diz muito mais sobre nós do que sobre ele.
Mas, em meio à escuridão de um poço que parece não ter fundo, há um povo que parece carregar luz própria: os palestinos. Não preciso me alongar nos detalhes — todos sabemos, ou fingimos saber, os horrores que enfrentam há quase oitenta anos, especialmente nos últimos dois. Palestinos sem casas, sem ruas, sem teto. Famílias que enterram seus mortos — ou os pedaços que conseguiram encontrar. E, mesmo assim, resistem.
No meio do caos, eles escolhem o que salvar. Quando não há mais escolas, igrejas, mesquitas, carros, casas, hospitais, padarias, bancos ou qualquer estrutura mínima, o que resta? E é exatamente aí que a centelha da humanidade se acende. Nas últimas semanas, vi imagens de palestinos em Gaza carregando o pouco que lhes restou — o que mais valorizam, o que cabe nas mãos e no coração.
Vi crianças famintas salvando animais igualmente famintos, com os quais dividirão a próxima refeição precária, mesmo sem saber se haverá a próxima refeição. Vi idosos resgatando exemplares do Alcorão e seus musbahas como se fossem joias sagradas. Vi crianças buscando brinquedos de irmãos menores, tentando suavizar o medo dos inocentes. Vi outras recolhendo livros escolares, mesmo sem escola onde estudar. Vi jornalistas protegendo suas câmeras, sabendo que talvez estejam registrando seus últimos instantes. Vi esposas salvando fotos de família, como quem agarra as últimas memórias daqueles que se foram.
Observar os palestinos salvando suas preciosidades — e compreendendo o significado de cada objeto — me faz acreditar que talvez ainda haja esperança para nós. Se ainda existe algo de bom na humanidade, ele brilha ali, em meio aos escombros. Salvar os palestinos é, de certo modo, salvar a nós mesmos. Ignorá-los é selar, de forma definitiva, nosso fracasso como espécie.
































































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