Israel amplia ofensiva no sul do Líbano e transforma reconstrução civil em alvo militar
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A nova campanha militar de Israel no sul do Líbano tem como alvo não apenas estruturas militares, mas também obras civis, máquinas e trabalhadores envolvidos na reconstrução da região devastada pelos conflitos. Sob o pretexto de impedir o fortalecimento do Hezbollah, os bombardeios têm causado mortes, destruição e medo, mantendo mais de 80 mil moradores longe de suas casas e impedindo que vilarejos inteiros sejam reerguidos.
Desde o início de outubro, os ataques se intensificaram. No dia 2, um bombardeio israelense matou dois engenheiros em uma área industrial. Dias depois, ofensivas atingiram Deir Aames e Yater, resultando em novas vítimas civis. Em 10 e 11 de outubro, um ataque massivo destruiu centenas de veículos em Msayleh, enquanto no dia 12, o engenheiro Tarek Mazraani, defensor da reconstrução das comunidades fronteiriças, foi ameaçado publicamente por um drone israelense durante uma transmissão de áudio. No último sábado, um operador de escavadeira foi morto após o disparo de três mísseis entre Sour e Bint Jbeil.
De acordo com analistas, a ofensiva representa uma mudança de tática: Israel busca transformar a reconstrução em um campo de disputa política, pressionando o governo libanês a desarmar o Hezbollah e gerando tensões dentro da comunidade xiita. Para o pesquisador Michael Young, do Carnegie Middle East Center,
“Israel está criando uma zona de segurança virtual que restringe a mobilidade do Hezbollah e tenta desgastar o apoio popular ao grupo”.

Dados da ONU mostram que, mesmo após o cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos e pela França em novembro de 2024, Israel manteve ataques quase diários e ocupou cinco pontos estratégicos ao longo da fronteira. Segundo a Anistia Internacional, entre outubro de 2024 e janeiro de 2025, mais de 10 mil estruturas civis e terras agrícolas foram destruídas em 26 municípios do sul libanês, deixando várias aldeias inabitáveis.
Autoridades libanesas classificam as ações israelenses como violações do cessar-fogo e denunciam a escalada militar como uma forma de “guerra contra a reconstrução”. O primeiro-ministro Nawaf Salam e o presidente Joseph Aoun tentam reativar projetos de recuperação, mas enfrentam resistência interna e limitações financeiras. A ajuda internacional, principalmente dos EUA e da Arábia Saudita, está condicionada a reformas econômicas e ao desarmamento do Hezbollah — exigências que o grupo rejeita.
A destruição de obras e equipamentos também tem acirrado disputas políticas dentro do Líbano. O movimento xiita Amal, aliado do Hezbollah, acusa o governo de negligência e exige que o orçamento nacional inclua fundos para a reconstrução. Seu líder, Nabih Berri, declarou que “os ataques de Israel são uma mensagem clara de que a reconstrução não é permitida”.
Especialistas apontam que a estratégia israelense pode ter efeitos opostos aos esperados.
“Ao impedir a reconstrução e o retorno dos civis, Israel corre o risco de fortalecer a narrativa do Hezbollah de que o Estado libanês é incapaz de proteger sua população”, alertou o analista David Wood, do International Crisis Group. Ele acrescenta que a contínua destruição pode provocar o surgimento de novos grupos armados locais, alimentando uma instabilidade prolongada na região.
Paralelamente, circula a hipótese de que Israel busca vincular a reconstrução a um acordo político e econômico mais amplo, semelhante ao plano proposto pelos EUA para transformar o sul do Líbano em uma zona de comércio e desenvolvimento. Segundo o cientista político Imad Salamey, “a reconstrução está sendo usada como moeda de troca para garantir concessões políticas e de segurança que atendam aos objetivos estratégicos de Israel”.
Enquanto o governo libanês tenta atrair ajuda internacional e conter a crise interna, a situação humanitária no sul do país se deteriora. Famílias deslocadas continuam impedidas de retornar, vilas seguem em ruínas e engenheiros e operários trabalham sob risco constante de novos bombardeios.
A guerra pela reconstrução — marcada por drones, mísseis e ameaças — tornou-se o novo campo de batalha entre Israel e o Hezbollah, transformando o futuro do sul do Líbano em uma disputa onde reconstruir é, por si só, um ato de resistência.


























































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