"A Longa Marcha" novo filme inspirado em livro de Stephen King revisita os ecos da Guerra do Vietnã
- www.jornalclandestino.org
- 27 de ago.
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Poucos autores conseguiram traduzir em literatura os traumas coletivos de sua geração como Stephen King. Conhecido por suas histórias de terror psicológico e fantástico, King também mergulhou em obras que funcionam como metáforas sombrias da realidade histórica e política dos Estados Unidos. Um exemplo é A Longa Marcha (The Long Walk), livro escrito em 1967 sob o pseudônimo Richard Bachman, que agora ganha nova adaptação cinematográfica.
O romance parte de uma premissa simples e brutal: cem jovens participam de uma marcha sem descanso, onde apenas um sobreviverá. Regras duras — como manter uma velocidade mínima sob risco de execução imediata — transformam a jornada em uma metáfora da sociedade que sacrifica seus jovens em nome de ideais distorcidos.
O eco da Guerra do Vietnã
Quando escreveu o livro, King ainda era um estudante universitário e, como muitos jovens de sua geração, convivia com o espectro da Guerra do Vietnã. O conflito não apenas dividiu os Estados Unidos internamente, como também expôs a juventude ao alistamento compulsório e a uma guerra sem sentido claro.
Não é difícil enxergar na Longa Marcha um reflexo desses tempos: jovens submetidos a uma competição mortal, controlada por um Estado autoritário, enquanto espectadores assistem de longe, como se fosse entretenimento. O absurdo da guerra — soldados marchando para a morte sem compreender completamente o motivo — ecoa na narrativa distópica de King.
Da literatura para a tela
A adaptação promete resgatar a tensão sufocante do livro, explorando o lado psicológico dos personagens e o peso da vigilância constante. Mais do que ação ou suspense, a história é um retrato da obediência cega e do custo humano de sistemas que tratam vidas como descartáveis.
Ao mesmo tempo, o filme dialoga com debates atuais: até que ponto a sociedade de hoje continua reproduzindo, sob outras formas, a mesma lógica da Guerra do Vietnã? Quantas vezes jovens ainda são enviados para “marchas longas”, seja em conflitos armados, seja em sistemas econômicos e sociais que exploram sua energia até a exaustão?
Mais do que um thriller, A Longa Marcha é uma reflexão sobre obediência, resistência e a crueldade institucionalizada. Revisitar essa obra no cinema é mergulhar no universo sombrio de Stephen King, mas também relembrar como a literatura e o cinema podem funcionar como espelhos dos traumas históricos que moldaram gerações.