Investigadora acusa sistema político português de conivência com discurso racista em campanha eleitoral
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A pesquisadora Joana Cabral acusou o sistema político português de permitir a normalização progressiva do discurso racista e xenófobo por meio da inação institucional. Em declarações à agência Lusa, a acadêmica analisou a polêmica envolvendo cartazes do candidato presidencial André Ventura que têm como alvo comunidades ciganas e imigrantes bengalis, situando-os em uma estratégia mais ampla de teste aos limites democráticos.

Cabral afirmou que alguns protagonistas políticos "foram encontrando espaço para, sistematicamente, testarem a plasticidade, a flexibilidade e também a inutilidade das instituições e do sistema em reagir de forma consequente a manifestações de natureza discriminatória, racista e xenófoba". Segundo a pesquisadora, esses testes vêm ocorrendo há bastante tempo, evoluindo de estratégias iniciais nas redes sociais para a atual ocupação do espaço parlamentar.
A acadêmica identificou um padrão de escalada: primeiro, as redes sociais serviram como o "grande canal para a construção de um espaço de naturalização e legitimação dessas narrativas"; posteriormente, o parlamento tornou-se "palco sistemático" desse discurso. Cabral enfatizou que a responsabilidade não se restringe aos partidos de extrema-direita, mas inclui "outras personalidades com responsabilidade no sistema, como o presidente da Assembleia da República", cuja "atuação, ou a ausência de atuação", permitiram a normalização.
A inoperância institucional foi outro ponto criticado, com destaque para a "inoperância total da Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial que, há bastante tempo, já não funcionava". Para a pesquisadora, a situação atual reflete "um projeto político com um plano deliberado, concertado a nível internacional", no qual agentes com responsabilidade política que não agiram tornaram-se "cúmplices do estado de coisas".
Cabral alertou que o uso do discurso racista na política "já não é um teste, mas sim uma prática regular", com conclusões já tiradas pelo sistema: "É possível praticar esse discurso com impunidade e até com uma certa conivência". A pesquisadora previu o agravamento da situação, classificando os cartazes do Chega como "um sinal de alarme gravíssimo", especialmente por se tratar de uma candidatura presidencial com um peso simbólico significativo.
O candidato André Ventura, por sua vez, defendeu a manutenção dos cartazes controversos, invocando a liberdade de expressão. "Nós vivemos num país livre, devemos saber viver em democracia", afirmou o líder do Chega, rejeitando os pedidos de remoção do material de campanha.




























































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