Quantos quilos de cocaína um branco precisa traficar para ser tratado como um preto com um baseado?
- Rafael Medeiros

- 31 de mai.
- 2 min de leitura
MC Poze ontem, um traficante branco de cocaína hoje, sexta-feira, onde o Brasil acordou com mais uma lição de seu apartheid jurídico. Enquanto o primo do deputado federal bolsonarista-branco Nicolas Ferreira era preso com 30 quilos de cocaína - quantidade que configura tráfico internacional -, a cena foi discreta, quase burocrática. Nada de transmissões ao vivo, humilhações ou cabeças abaixadas. Apenas o ritual reservado aos crimes de colarinho branco. Enquanto isso, nas mesmas 24 horas, um artista preto é algemado por cantar sua realidade, um ex-deputado branco que atirou contra agentes da PF dorme em prisão domiciliar, um ex-presidente da república/ branco goza de uma mansão na sua prisão de frente para o mar, por “constatar” apneia do sono. E os mesmos que financiaram as milícias do 8 de Janeiro? Continuam fazendo APOLOGIA ao golpe diariamente nas redes como faziam em frente aos quartéis.

A pirotecnia branca da CPI das Apostas virou espetáculo midiático enquanto famílias negras se destruíam nas casas de apostas digitais. Virgínia, loira e sorridente, transformou um debate sobre vício e dívidas em reality show para deleite da elite. Nenhum dono de cassino preso. Nenhum político responsabilizado. Apenas a encenação de uma justiça que nunca chega para quem deveria.
Roberto Jefferson, que recebeu a Polícia Federal a tiros de fuzil, deixando uma policial em estado grave, foi tratado com deferência raramente vista nas periferias. Escolta VIP, celas especiais e depois prisão domiciliar. O mesmo Estado que arrasta MC Poze do Rodo sem camisa, descalço, com a cabeça forçada para baixo, esculachado na frente de sua esposa e filha, trata criminosos brancos como cavalheiros. Seu crime? Cantar a realidade que a Globo lucra bilhões para dramatizar (arte) em novelas escritas por autores brancos de seus apartamentinhos de Copacabana.
Os números não mentem, mas são convenientemente esquecidos. O sistema prisional brasileiro é 64% negro. Para cada branco preso por tráfico, há três negros. Enquanto 80% das vítimas de intervenção policial são negras, 90% dos benefícios de prisão domiciliar são para brancos. Setenta por cento dos investigados por crimes financeiros são brancos. Esses não são acidentes - são o projeto.
Enquanto um jovem preto é revistado por portar um maço de cigarros, os verdadeiros criminosos de gravata fecham novos esquemas de corrupção nos mesmos restaurantes onde juízes e promotores jantam. Enquanto um menino da favela é morto por um fuzil da polícia, os golpistas de paletó que incendiaram Brasília em janeiro seguem fazendo apologia ao golpe nas redes sociais, em frente aos quartéis, nos programas de TV.
A pergunta que não quer calar: quantos quilos de cocaína um branco precisa traficar para ser tratado como um preto com um baseado? Quantos tiros de fuzil um branco pode dar na PF antes de ser algemado como um jovem da periferia? Enquanto não respondermos isso, a "apologia" seguirá sendo apenas mais uma arma do genocídio.
Rafael Medreiros
TREZZE Comunicação Integrada/ Jornal Clandestino/ Espiasó Podcast
DEPEN. Levantamento Nacional Penitenciário (2022)
FBSP. Anuário da Violência (2023)
MPF. Dados sobre crimes financeiros (2023)
Processo do 8/1 (STF 2023)
Prisão de Roberto Jefferson (MPF 2022)


























































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