Onda de sequestros de mulheres e meninas alauítas na Síria
- www.jornalclandestino.org
- 4 de ago.
- 2 min de leitura
A Anistia Internacional denunciou na quinta-feira (31), uma onda alarmante de sequestros de mulheres e meninas da comunidade alauíta na Síria e cobrou do governo uma resposta urgente para localizar as vítimas, investigar os crimes e responsabilizar os autores. Desde fevereiro de 2025, pelo menos 36 mulheres e meninas alauítas, com idades entre 3 e 40 anos, foram sequestradas nas províncias de Latakia, Tartous, Homs e Hama, segundo informações verificadas pela organização. Oito casos foram documentados com detalhes, incluindo o desaparecimento em plena luz do dia de cinco mulheres e três meninas menores de 18 anos. Apenas duas vítimas conseguiram retornar às famílias.
A secretária-geral da Anistia Internacional, Agnès Callamard, criticou a inação das autoridades sírias:
"As autoridades prometeram construir uma Síria para todos os sírios, mas falharam em impedir os sequestros e os abusos, incluindo violência física, casamentos forçados e possível tráfico de pessoas. A comunidade alauíta, já marcada por massacres anteriores, agora vive em pânico, e mulheres têm medo de sair de casa", afirmou Callamard.

A investigação da Anistia revelou que famílias receberam ligações e mensagens de sequestradores exigindo resgates entre US$ 10 mil e US$ 14 mil. Em um caso, mesmo após o pagamento, a vítima não foi libertada. Há indícios de que pelo menos três vítimas, incluindo uma menor de idade, foram submetidas a casamentos forçados. Em outro caso, uma adolescente foi espancada e teve o cabelo raspado por se recusar a se casar com o sequestrador.
Apesar das denúncias, em quase todos os casos as autoridades sírias falharam em investigar de forma eficaz. Famílias relataram negligência, desdém e até culpabilização por parte da polícia e da Segurança Geral. Algumas receberam ordens para permanecer em silêncio após a libertação de suas parentes, temendo represálias dos sequestradores, que continuam impunes.
Em junho, a Comissão de Inquérito da ONU sobre a Síria confirmou ao menos seis sequestros de mulheres alauítas por “indivíduos não identificados” e reconheceu relatos confiáveis de novos casos. Já em maio, a Anistia Internacional levou o caso ao ministro do Interior em Damasco, que prometeu investigações. Até o momento, porém, não houve prisões nem processos relacionados aos crimes.
Agnès Callamard reforçou que o governo sírio tem uma obrigação legal e moral de agir:
"Todas as mulheres na Síria merecem viver livres do medo de abuso, discriminação e perseguição. As autoridades devem conduzir investigações rápidas, imparciais e eficazes, e garantir reparação às vítimas. A omissão diante dessa crise é uma grave violação de direitos humanos."
Os sequestros e os relatos de casamentos forçados se somam ao histórico de violência de gênero no país em guerra há mais de uma década, expondo a vulnerabilidade das mulheres em meio ao colapso da segurança e da proteção estatal.