Assembleia da ONU: líderes africanos reivindicam reformas profundas, lugar permanente no Conselho de Segurança e justiça para a Palestina
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- 24 de set.
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No palco da 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas, líderes africanos intensificaram suas reivindicações por uma representação mais justa na governança internacional. Com foco no fortalecimento da voz do continente, na defesa da paz e da segurança, e na mobilização de recursos para o desenvolvimento sustentável, os discursos refletem tanto a crescente relevância geopolítica da África quanto o peso de uma marginalização histórica.
O encontro em Nova Iorque ocorre sob o lema “Melhores juntos: 80 anos e mais pela paz, desenvolvimento e direitos humanos”, em um momento marcado pela continuidade dos ataques em Gaza e pelos conflitos africanos como a escalada de violência na República Democrática do Congo (RDC), onde rebeldes do M23 — apoiados por Ruanda — avançaram sobre Goma e Bukavu.

Pressão por reformas estruturais
Entre as pautas mais insistentes está a reforma do Conselho de Segurança da ONU. Presidentes africanos, em especial Cyril Ramaphosa, da África do Sul, voltaram a cobrar assentos permanentes para o continente, denunciando o desequilíbrio da atual configuração, dominada por cinco países com poder de veto: Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China.
“Esses cinco membros permanentes tomam decisões em nome de mais de 85% da população mundial que vive no Sul Global”, disse Ramaphosa, acusando o uso recorrente do veto de paralisar a ação coletiva e de enfraquecer a legitimidade da ONU. Para o presidente sul-africano, a exclusão estrutural mina a neutralidade e a credibilidade da organização.
Especialistas, porém, ressaltam os entraves formais: mudanças na Carta da ONU exigem maioria de dois terços dos Estados-membros e, posteriormente, ratificação pelos próprios membros permanentes — que historicamente resistem a dividir poder.
Outra bandeira levantada pelas lideranças africanas foi a defesa da causa palestina. Ramaphosa reafirmou que a África do Sul não ficará em silêncio diante da guerra em Gaza e pediu a criação de um Estado Palestino contíguo, com base nas fronteiras de 1967 e Jerusalém Oriental como capital.
“Estamos comprometidos com uma paz justa e duradoura." Cyril Ramaphosa
A posição ecoa em outros governos africanos, que traçam paralelos entre a luta palestina e o passado colonial do continente. Analistas lembram que a maioria dos países africanos já reconhece a Palestina, em contraste com o movimento mais recente de nações ocidentais como França, Reino Unido, Canadá, Portugal e Austrália, que oficializaram o reconhecimento nesta semana.
Segundo Fidel Amakye Owusu, especialista em segurança e geopolítica africana, a pressão atual mira elevar a Palestina de Estado observador a membro pleno da ONU, com direito a voto e futura participação no Conselho de Segurança. Contudo, a iniciativa esbarra novamente no crivo dos cinco membros permanentes.
Embora a Assembleia Geral tenha dado palco às reivindicações africanas, a atenção internacional permanece fragmentada diante de crises em outras regiões. Ainda assim, a pressão articulada por líderes africanos na ONU reforça a ideia de que o continente não aceita mais ser mero expectador do sistema internacional. A 80ª Assembleia pode não entregar respostas imediatas, mas expôs uma crescente assertividade africana diante de uma ordem global que insiste em manter velhas hierarquias.



































































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