Papa Leão XIV rompeu protocolos e simbolismos para clamar por um cessar-fogo imediato em Gaza e na Ucrânia

Na Praça de São Pedro, repleta de fiéis e bandeiras de todas as partes do mundo, ecoou neste domingo uma mensagem contundente que desafia tanto os senhores da guerra quanto os cardeais mais conservadores da Igreja Católica. Em sua primeira bênção dominical ao meio-dia, o recém-eleito Papa Leão XIV — o primeiro pontífice vindo dos Estados Unidos — rompeu protocolos e simbolismos para clamar por um cessar-fogo imediato em Gaza e por uma paz autêntica na Ucrânia, posicionando-se como uma figura globalmente inquieta diante das múltiplas fraturas do planeta.

CNS Lola Gomez. Papa Leão XIV acena para a multidão da varanda central da Basílica de São Pedro durante a oração Regina Coeli. Vaticano, 2025.

"Repito o apelo eterno: nunca mais guerra", declarou Leão, da loggia central da basílica, diante de uma multidão estimada em 100 mil pessoas. O gesto — retomando uma tradição interrompida, mas com nuances próprias — marcou não apenas o início de seu pontificado público, como também uma tentativa clara de unificar uma Igreja dilacerada por disputas ideológicas internas. Diferente de seus predecessores, que preferiam a janela lateral do Palácio Apostólico, o novo papa se colocou no centro da praça, diante do povo, sem os aparatos de pompa que acompanham o cargo — apenas com a batina branca e sua cruz peitoral de prata.

Leão, de 69 anos e oriundo da ordem agostiniana, adotou uma linguagem firme ao se referir à guerra na Ucrânia como parte de uma “terceira guerra mundial em pedaços”, retomando palavras de seu antecessor, Francisco. Com emoção visível, apelou pelo retorno das crianças ucranianas deportadas e a libertação de prisioneiros de guerra. Voltando-se ao Oriente Médio, exigiu cessar-fogo em Gaza e a liberação imediata de todos os prisioneiros, além da entrega de ajuda humanitária à população civil que, segundo ele, “já não aguenta mais sofrer”.

Apesar da sobriedade em seu vestuário, Leão não se furtou a sinais que alimentaram especulações nos bastidores do Vaticano. Desde sua eleição, ele tem equilibrado gestos de reconciliação com os setores mais conservadores — como o uso da capa vermelha papal em sua primeira aparição — com posturas de abertura que ecoam os ventos reformistas de Francisco. Em uma missa íntima celebrada no túmulo de São Pedro, acompanhado por seu irmão e o superior de sua ordem, Leão ressaltou a importância das vocações religiosas e o papel do exemplo sacerdotal na formação de novos líderes espirituais.