Entenda a crise no Sudão: Queda de El-Fasher pelas RSF consolida colapso em Darfur
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- 29 de out.
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Após intensos combates que culminaram na tomada do principal quartel-general das Forças Armadas Sudanesas (SAF) em El-Fasher, as Forças de Apoio Rápido (RSF), comandadas pelo general Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti, consolidaram o controle sobre a última grande cidade de Darfur que ainda resistia ao seu avanço. A queda de El-Fasher, capital do estado de Darfur do Norte, marca um ponto decisivo no conflito sudanês, sinalizando o colapso da autoridade militar governamental em todo o oeste do país e efetivamente dividindo o Sudão em esferas de influência distintas.

A captura foi anunciada pelas próprias RSF, que divulgaram imagens mostrando seus combatentes dentro das instalações militares governamentais. Embora o comando das SAF não tenha emitido um reconhecimento formal da derrota, relatórios de campo e análises de inteligência independentes confirmam a perda dos centros de comando estratégicos, com resistência armada limitando-se a bolsões isolados dentro da cidade. A ofensiva final foi precedida por mais de doze meses de cerco rigoroso, que cortou rotas de abastecimento e acesso humanitário, seguidos por bombardeios contínuos de artilharia que precipitaram a retirada das unidades governamentais.
Colapso Humanitário e Alegações de Atrocidades
O custo humano da batalha é severo. Estima-se que 260.000 civis permaneçam encurralados em El-Fasher, enfrentando uma situação descrita por agências humanitárias como colapso iminente. Os sistemas de saúde entraram em falência completa, com hospitais sem medicamentos, equipamentos ou energia, enquanto comboios de ajuda permanecem bloqueados desde o início de setembro. Relatos de testemunhas descrevem surtos de doenças e fome, com milhares tentando fugir em direção a localidades como Zamzam, Kutum e à fronteira com o Chade, muitas vezes por rotas perigosas, minadas ou vigiadas por combatentes.
Paralelamente à crise humanitária, emergem relatos perturbadores de violações de direitos humanos. Apesar das promessas das RSF de estabelecer corredores humanitários, circulam imagens e testemunhos que apontam para execuções sumárias, saques sistemáticos e violência direta contra civis. Essas alegações ecoam padrões de abusos anteriormente documentados pelas RSF em outras cidades de Darfur, como Geneina e Ardamata. As Nações Unidas exigiram investigações imediatas sobre possíveis crimes de guerra e o acesso irrestrito para assistência, mas a presença de milícias em áreas residenciais tem impedido a fuga segura da população.
Reconfiguração do Poder Militar e Geopolítico
A conquista de El-Fasher proporciona às RSF uma vantagem estratégica inédita. O controle da cidade e de toda a região de Darfur garante ao grupo paramilitar autoridade sobre as principais rotas de abastecimento que ligam o Sudão à Líbia e ao Chade. Este corredor é vital para o fluxo de armamentos, combustível e comércio transfronteiriço, solidificando a base econômica e logística de Hemedti.
Para o general Abdel Fattah al-Burhan, líder das SAF, a perda representa um revés militar e político devastador. Confinado ao comando no leste, em Port Sudan, Burhan vê seu poder significativamente enfraquecido, dependente agora principalmente do apoio externo do Egito e de nações do Golfo. A guerra transformou-se, na prática, em um conflito pela hegemonia nacional, com as RSF emergindo como a força militar dominante no terreno e um ator incontornável em qualquer negociação de paz futura.

Implicações Regionais e Cenários Futuros
Analistas de segurança avaliam que o novo panorama consolida uma divisão territorial de facto no Sudão, com o oeste sob o domínio de um proto-Estado paramilitar. Esta realidade pode incentivar milícias tribais e redes de contrabando em todo o Sahel, aprofundando a instabilidade regional. Espera-se uma crise de refugiados de grandes proporções, sobrecarregando as já frágeis regiões fronteiriças do Chade.
No horizonte próximo, prevê-se que as RSF busquem consolidar seu controle administrativo sobre Darfur, enquanto as SAF, com capacidade aérea limitada, podem recorrer a bombardeios de retaliação. A comunidade internacional enfrenta o desafio de mediar um cessar-fogo em um contexto de autoridade central fragmentada e de impedir que El-Fasher se torne um episódio ainda mais sombrio na já trágica história de Darfur. A guerra sudanesa entrou em uma nova e perigosa fase, onde a disputa pelo poder nacional parece ter cedido lugar à realidade de uma nação partida.



































































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