Sudão do Sul: à beira do colapso entre a corrupção e a guerra civil
- www.jornalclandestino.org

- 21 de set.
- 4 min de leitura
Por Abbas Mohamed Saleh Original de Al Mayadeen
Quatorze anos após a "independência", o Sudão do Sul permanece como um modelo de Estado falido, governado por uma elite oligárquica gananciosa e mergulhada na corrupção, enquanto seu povo vive abaixo da linha da pobreza.
Desde que declarou sua "independência" em julho de 2011, o Sudão do Sul tornou-se o mais novo país do continente africano, resultado de um acordo patrocinado internacional e regionalmente que encerrou uma das mais longas guerras civis da África. No entanto, rapidamente decepcionou seus cidadãos e aliados no exterior.
Apenas dois anos depois, o país mergulhou em uma guerra civil entre os próprios camaradas do Movimento/Exército de Libertação do Povo do Sudão (SPLM/A) – hoje no poder – antes retratados como combatentes da liberdade, mas que logo se transformaram em rivais na disputa por poder e riqueza.

Um país em crise desde o nascimento
A esperança de que o Estado incipiente fosse capaz de construir instituições fortes e eficazes desapareceu rapidamente, apesar do grande apoio internacional e regional.
O presidente Salva Kiir, de 73 anos, de temperamento volátil e governo centralizador, marginalizou as instituições e concentrou a tomada de decisões em si mesmo, enquanto o partido governista se dividia em facções rivais ao longo de linhas tribais em vez de nacionais.
Como resultado, o Sudão do Sul nasceu em crise e permanece preso em um período de transição sem fim desde 2011, deixando o país sem instituições eleitas, responsáveis e monitoradas de forma adequada para alcançar os objetivos e aspirações do povo ao estabelecer seu novo Estado.
Uma guerra civil renovada
Desde dezembro de 2013, o país está atolado em uma guerra de natureza tribal entre o presidente Salva Kiir (etnia Dinka) e seu primeiro vice-presidente, Riek Machar (etnia Nuer). O conflito rapidamente se transformou em uma disputa aberta por poder e riqueza entre as duas maiores e mais rivais tribos do país.
Apesar da assinatura de vários acordos de paz, principalmente em 2018, intermediados pela IGAD, sua implementação permanece frágil e sob constante risco de colapso.
O país ainda vive em um círculo vicioso de violência e instabilidade, com crescentes alertas internacionais de que pode voltar a mergulhar em conflitos devastadores. A tensão aumentou desde março deste ano, quando os dois líderes entraram em choque sobre a implementação do acordo de paz.
Corrupção: o câncer do Estado
A corrupção sistêmica agravou as crises acumuladas. As elites políticas, compostas por ex-"senhores da guerra", saquearam a riqueza do petróleo e desviaram as receitas para contas no exterior, em vez de investir em saúde, educação e infraestrutura. Desde a independência, mais de 23 bilhões de dólares em exportações de petróleo foram desperdiçados.
O último relatório da Comissão de Direitos Humanos da ONU (setembro de 2025) descreveu o Sudão do Sul como um exemplo flagrante de "pilhagem sistemática". Investigadores da ONU acusam altos funcionários de saquear os recursos do país, usando fundos públicos para comprar lealdades políticas, enquanto a responsabilidade e a transparência inexistem.
Caos político e crises acumuladas
O repetido adiamento das eleições sob pretextos frágeis reflete a falta de vontade política e perpetua o governo de uma minoria. Com as receitas do petróleo em colapso devido à guerra no Sudão (desde abril de 2023) e a redução do apoio externo, o país enfrenta uma crise econômica paralisante que intensifica o descontentamento popular.
Os confrontos armados aumentaram, e várias figuras da oposição foram presas, incluindo o primeiro vice-presidente Riek Machar. O governo anunciou recentemente que ele será julgado por crimes contra a humanidade, colocando em risco o futuro do acordo de paz e levando-o à beira do colapso.
Segundo o relatório do Comitê de Direitos Humanos da ONU, "as elites dominantes continuam a explorar recursos e alimentar tensões étnicas para obter ganhos políticos e partidários".

Crise humanitária provocada pelo homem
De acordo com organizações internacionais, quase metade da população – cerca de 6,3 milhões de pessoas – sofre de insegurança alimentar grave.
Com os recursos estatais em queda, a dependência da ajuda externa se tornou quase absoluta. No entanto, funcionários do governo manipulam o número de necessitados ou desviam a ajuda humanitária para fins partidários e pessoais.
As recorrentes inundações e desastres naturais agravam a situação, mas a raiz da crise permanece sendo a má governança e a corrupção desenfreada.
A ascensão de Paul Mill
Em meio ao regime cleptocrático, Benjamin Paul Mill, vice-presidente para Assuntos Financeiros e Econômicos desde fevereiro de 2025, emergiu como um homem forte com ampla influência econômica e política. Ex-enviado especial do presidente, é visto como potencial sucessor de Salva Kiir.
Apesar de estar sob sanções internacionais desde 2021, Paul Mill tornou-se aliado próximo do presidente e elo de ligação com potências regionais, especialmente Abu Dhabi.
Controvérsia sobre a "Riviera de Gaza"
Relatos recentes sobre negociações para receber dezenas de milhares de palestinos deslocados de Gaza (cerca de 250 mil pessoas, segundo a Africa Intelligence em 16 de setembro de 2025) provocaram amplo debate interno e externo.
Embora o governo negue, a ascensão de Paul Mill e suas conexões internacionais levantam suspeitas de que o projeto poderia avançar em troca de ganhos políticos e econômicos, como o levantamento das sanções da ONU e dos EUA e do embargo de armas imposto desde 2018.
Intervenção ugandense
Apesar da presença de uma grande missão da ONU – a UNMISS, com 15 mil soldados –, Juba recorreu a tropas ugandenses destacadas desde março de 2025 sob o pretexto de proteger a capital em meio às tensões com Riek Machar.
A intervenção de Uganda, porém, levantou temores de ambições expansionistas, violações de direitos humanos e agravamento da instabilidade. Segundo relatório de especialistas da ONU (julho de 2025), a ação viola o embargo de armas da resolução 2428 (2018).
Quatorze anos após a "independência", o Sudão do Sul segue como um Estado falido, dominado por uma elite oligárquica mergulhada na corrupção, enquanto seu povo vive na pobreza extrema.
O país, nascido das ruínas da mais longa guerra civil da África, não alcançou paz nem desenvolvimento. Ao contrário: afundou em uma espiral de violência, corrupção e autocracia.


























































Comentários