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100 Dias do pior 'governo' do pior 'presidente' que os EUA já viu

Especialistas alertam para um marco sem precedentes na história dos EUA, onde o Executivo promove uma ofensiva institucional inédita — e devastadora.


Na tentativa de compreender o cenário de desmantelamento institucional promovido por Donald Trump nos seus primeiros cem dias de governo, o jornalista Ryan Cooper consultou dois historiadores de peso: David Greenberg, da Universidade Rutgers, e Douglas Brinkley, da Universidade Rice. Ambos confirmam que o país já enfrentou momentos de tensão, autoritarismo e reformas radicais no passado. Mas nenhum deles se compara ao que está em curso.


Franklin D. Roosevelt, por exemplo, redefiniu o papel do Estado com o New Deal; Andrew Jackson, depois de afirmar que teve sua eleição "roubada" em 1824, ignorou a Suprema Corte e tomou terras indígenas; Richard Nixon tentou justificar seus abusos com a célebre frase: “quando o presidente faz algo, não é ilegal”. No entanto, como destaca Brinkley, “Trump não é um reformador — ele é uma bola de demolição”.



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As iniciativas de Trump não surgem de um projeto político consistente ou de um pacto institucional com o Congresso. Elas nascem de uma lógica de retaliação e autoritarismo, voltadas contra adversários políticos, imigrantes, universidades, jornalistas, juízes, e até mesmo contra a máquina pública. Para Brinkley, “o que vemos é pura vingança, um cenário que lembra os prenúncios de uma guerra civil moderna”.


A gravidade do momento reside, segundo Greenberg, no fato de que, pela primeira vez, é o próprio presidente quem lidera a sabotagem dos fundamentos democráticos dos EUA. “Nos períodos sombrios do passado, não havia essa percepção de que a destruição vinha do centro do poder, da própria Casa Branca”, alerta.



A máquina do Executivo como arma de destruição

Durante décadas, os poderes do Executivo foram ampliados, especialmente no contexto do New Deal e da Guerra Fria. Agora, esse mesmo aparato está sendo utilizado para atacar direitos civis e instituições centenárias. Harvard, por exemplo, se recusou a ceder às pressões políticas de Trump, que exigia alterações em sua governança e política de contratações. Como retaliação, o governo bloqueou mais de US$ 2 bilhões em financiamentos, forçando a paralisação de pesquisas científicas vitais.


Os cortes anunciados nos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) chegam a 40%, com demissões em massa que afetam majoritariamente mulheres e pessoas negras ou latinas. Ao mesmo tempo, o governo ameaça revogar o status de isenção fiscal de Harvard e impedir a matrícula de estudantes estrangeiros.



Imigração como campo de testes autoritário

A política migratória tornou-se um dos laboratórios preferenciais da repressão. Investigações da CBS News e do New York Times revelaram que a maioria dos deportados não possui antecedentes criminais. Muitos estão presos em condições degradantes, sem qualquer processo legal. E, em uma escalada ainda mais agressiva, Trump chegou a sugerir que cidadãos americanos “nativos” seriam os próximos alvos.


O caso de Kilmar Abrego Garcia, deportado ilegalmente para El Salvador, é emblemático. Embora a Suprema Corte tenha determinado seu retorno, o governo ignorou a decisão judicial. Em vez disso, Trump celebrou a atitude com o presidente salvadorenho Nayib Bukele — que se autodeclara o “ditador mais legal do mundo”.

Polícia dos EUA - Immigration and Customs Enforcement ICE.
Polícia dos EUA - Immigration and Customs Enforcement ICE.

Silenciamento e guerra contra a imprensa

Não satisfeita com as críticas da imprensa, a Casa Branca passou a restringir o acesso de veículos jornalísticos ao seu espaço. Após uma ordem judicial que obrigava a reintegração da Associated Press, o governo simplesmente removeu o espaço para todos os meios de comunicação na sede presidencial.


Trump também sugeriu a revogação da licença da CBS, irritado com uma reportagem do programa “60 Minutes”. E seu aliado na Comissão Federal de Comunicações ameaçou diretamente a MSNBC por sua cobertura crítica ao governo.



Desmonte do Estado e perseguição política

Enquanto isso, o funcionalismo público federal sofre com demissões e cortes drásticos. Órgãos como a AmeriCorps, o Instituto da Paz dos EUA, a Voz da América e o Fundo Nacional para as Humanidades estão sendo sistematicamente desmantelados. O IRS, responsável pela arrecadação de impostos, foi parcialmente capturado por figuras políticas leais ao trumpismo, como Gary Shapley — que ganhou notoriedade ao atacar Hunter Biden.



Um Executivo sem freios, um país à deriva

Ao contrário dos episódios anteriores de abuso de poder, quando os próprios partidos presidenciais impuseram limites — como no caso de Roosevelt e Nixon —, os republicanos agora permanecem em silêncio. Essa omissão, para os especialistas, é o ingrediente novo e mais perigoso da equação.


“Estamos diante de um presidente que não busca governar, mas dominar”, afirma Greenberg. “E o faz com as ferramentas mais poderosas que já existiram nas mãos de um líder americano.”


Os cem dias de Donald Trump entrarão para a história. Não por conquistas. Mas por seu legado de destruição institucional e corrosão democrática. Como define Brinkley, “estes são, sem dúvida, os cem dias mais estranhos — e mais perigosos — da história presidencial dos Estados Unidos”.



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