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A história da bandeira que tremula no quintal da Klan

Ela nunca foi a bandeira oficial da Confederação, mas poucos símbolos são tão carregados de significado e controvérsia quanto o “Cruzeiro do Sul” — aquele X azul com estrelas brancas sobre fundo vermelho. Para uns, é herança cultural; para outros, é um lembrete vivo do racismo que moldou e ainda molda os Estados Unidos.


Um apoiador está em um comício da bandeira confederada na Assembleia Legislativa da Carolina do Sul após o tiroteio em Charleston. ©MCNAMEE.
Um apoiador está em um comício da bandeira confederada na Assembleia Legislativa da Carolina do Sul após o tiroteio em Charleston. ©MCNAMEE.

Um símbolo que nasceu no campo de batalha

No início da Guerra Civil Americana (1861–1865), o sul separatista precisava de um emblema que unisse suas tropas. A primeira opção foi a “Bonnie Blue Flag” — uma estrela solitária em fundo azul. Logo depois veio a “Stars and Bars”, parecida demais com a bandeira da União, o que gerou confusões fatais no campo de batalha. Para resolver isso, o general Pierre Beauregard aprovou um novo desenho criado por William Porcher Miles: uma cruz diagonal azul com estrelas, representando os estados confederados.


O curioso é que, apesar de ter se tornado o estandarte mais lembrado da guerra, essa bandeira nunca foi oficial. Era apenas a bandeira de combate. Ainda assim, sua imagem ficou associada à causa confederada e, para os unionistas, ao ato de traição.


Do “orgulho do sul” ao terror racial

A derrota do sul em 1865 não sepultou o símbolo. Pelo contrário: na era pós-guerra, marcada pelas leis de segregação racial (o sistema Jim Crow), a bandeira passou a ser usada pela Ku Klux Klan e outros grupos para intimidar a população negra.


No início do século 20, ela foi incorporada ao mito da “Causa Perdida” — a narrativa que reescrevia a Guerra Civil como uma luta pela “autonomia do sul” e não pela preservação da escravidão. Esse revisionismo ajudou a manter a bandeira viva como ícone cultural e político.


Em 1948, o uso explodiu com os “Dixiecrats”, partido segregacionista que a adotou como símbolo de resistência às políticas de direitos civis. Nas décadas seguintes, virou presença obrigatória em protestos contra a integração racial e até em bandeiras estaduais, como a da Geórgia em 1956.


Neonazistas protestam em frente ao Capitólio dos EUA em 2008, em Washington, DC. ©Haraz N. Ghanbari I Associated Press.
Neonazistas protestam em frente ao Capitólio dos EUA em 2008, em Washington, DC. ©Haraz N. Ghanbari I Associated Press.

Entre rebeldia pop e discurso de ódio

Nos anos 1970 e 1980, o “Cruzeiro do Sul” migrou para a cultura pop — de capas de discos de rock sulista a carros de seriados de TV. Para muitos jovens, era apenas um emblema de rebeldia e anti-establishment. Para outros, continuava carregando séculos de opressão.


Momentos trágicos reacenderam a polêmica: em 2015, o massacre racista em Charleston (Carolina do Sul) por um atirador que posava com a bandeira fez diversos estados removerem o símbolo de prédios públicos. Em 2021, ela reapareceu nas mãos de extremistas durante a invasão ao Capitólio.


O que ela significa hoje?

Pesquisas recentes mostram um país dividido: 41% dos estadunidenses dizem que a bandeira representa racismo; 34% a veem como herança cultural. Na prática, ela se tornou um código visual — adotado por grupos extremistas quando se sentem ameaçados, mas também defendido por quem alega “liberdade de expressão”.


A verdade é que símbolos não são estáticos. Eles mudam de significado, mas carregam consigo os ecos de sua história. Seja qual for a interpretação, é impossível ignorar que esse pedaço de pano colorido atravessou 160 anos de história dos EUA representando um racismo que, diferente dos confederados, ainda não está nem perto de ser vencido.

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