Gêmeos sofrem ferimentos graves ao tocar bomba não detonada nos escombros de Gaza

Yahya e Nabila Shorbasi, de seis anos, ficaram gravemente feridos ao encontrar um objeto explosivo nos escombros da casa de sua família na Cidade de Gaza. Inicialmente acreditando se tratar de um brinquedo, o toque acionou a explosão, deixando as crianças com ferimentos severos.

O avô das crianças, Tawfiq Shorbasi, relatou que a família estava desfrutando da relativa calmaria do cessar-fogo quando ouviu a explosão e correu para socorrer os netos, que estavam sangrando no chão. “Era como um brinquedo”, disse ele, descrevendo o objeto que causou o acidente.

Os médicos dizem que os gêmeos Shorbasi têm ferimentos com risco de vida, incluindo uma mão perdida, um buraco no intestino, ossos quebrados e perda potencial de uma perna ©Getty

Os gêmeos foram levados às pressas para hospitais diferentes: Yahya para o al-Shifa e Nabila para o Patient’s Friends. Médicos britânicos presentes informaram que ambos tiveram ferimentos com risco de vida, incluindo a perda de uma mão, ossos quebrados, perfuração intestinal e possível perda de uma perna. Eles passaram por cirurgias de emergência, e suas condições se estabilizaram, mas a recuperação ainda é incerta devido à escassez de medicamentos e suprimentos médicos em Gaza.

O incidente acontece em meio ao retorno de centenas de milhares de palestinos às áreas devastadas após o cessar-fogo iniciado em 10 de outubro, resultado de um acordo mediado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, envolvendo Israel e o Hamas, baseado em um plano de paz de 20 pontos. Muitos civis, incluindo crianças, continuam expostos a perigos em meio aos escombros, enquanto buscam pertences ou corpos de familiares.

Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, cinco crianças ficaram feridas por munições não detonadas na última semana, incluindo casos na Cidade de Gaza e em Khan Younis, no sul do território. Outros dois menores, Yazan e Jude Nour, sofreram ferimentos enquanto inspecionavam suas casas.

Faixa de Gaza, 2025. _momen__sameer

Especialistas internacionais alertam para o risco contínuo. Luke Irving, chefe do Serviço de Ação contra Minas da ONU (UNMAS) nos territórios palestinos, afirmou que a presença de munições não detonadas é uma ameaça significativa, com 560 itens já identificados durante o cessar-fogo. Ele ressaltou que os números de vítimas podem ser maiores, considerando os dados coletados desde o início do conflito.

Dois anos de guerra deixaram aproximadamente 60 milhões de toneladas de detritos em Gaza, complicando os esforços de desminagem. Equipes humanitárias esperam intensificar a remoção de explosivos nas próximas semanas, mas os riscos permanecem altos, sobretudo para civis retornando às áreas destruídas.

“Esta é a armadilha mortal. Estamos em cessar-fogo, mas a matança não parou”, disse uma médica britânica que acompanha os pacientes, destacando a contínua vulnerabilidade da população civil em Gaza.