O Cerrado morre em silêncio
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A marginalização do Cerrado trata-se de um padrão histórico de seleção política e midiática sobre quais ecossistemas merecem visibilidade e quais podem ser sacrificados em nome da “modernização” e da “segurança alimentar global”. Documentos oficiais do Ministério da Agricultura mostram que mais de 70% da área convertida em pasto ou monocultura de soja no Brasil, entre 2000 e 2020, se concentrou no Cerrado, enquanto o discurso internacional continuava focado na preservação da Amazônia. Ao mesmo tempo, planos de mitigação climática apresentados pelo país à Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC) raramente destacam este bioma como prioridade, apesar de relatórios do IPCC indicarem que sua degradação compromete a segurança hídrica continental e a regulação climática do Cone Sul.
A invisibilidade do Cerrado na agenda climática também se explica pela lógica do poder econômico global. O bioma sustenta a produção de soja, carne e biocombustíveis voltados majoritariamente à exportação, atendendo à demanda de China, União Europeia e Estados Unidos. Assim como outros episódios históricos — da extração de borracha na Amazônia no início do século XX à atual corrida por lítio no Triângulo do Cone Sul —, a destruição local é apresentada como inevitável em nome de “interesses superiores” do mercado global, com custos sociais e ambientais absorvidos por comunidades tradicionais, pequenos produtores e populações indígenas.

Relatórios de ONGs internacionais como a Global Witness já apontaram que o Cerrado lidera os conflitos por terra e registra algumas das maiores taxas de violência contra defensores ambientais no Brasil, mas esse dado raramente encontra espaço no discurso oficial.
O caso do Cerrado, reflete uma estrutura recorrente de gestão ambiental marcada pela invisibilização de ecossistemas estratégicos e pela subordinação do interesse coletivo às cadeias de valor globais.





































































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