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Entenda o que está em jogo na Venezuela e por que Trump quer tanto a cabeça de Maduro

  • Foto do escritor: Siqka
    Siqka
  • 19 de ago.
  • 5 min de leitura

Uma frota de destróier estadunidense se aproxima da América do Sul para mais uma demonstração do imperialismo yankee; nos últimos dias, a Venezuela voltou ao centro da disputa geopolítica nas Américas. De um lado, Washington dobrou a recompensa pela captura de Nicolás Maduro para US$ 50 milhões. Do outro, Caracas respondeu mobilizando milhões e denunciando agressão do presidente mais cancerígeno da história dos EUA. No meio, petróleo, migração, guerra de narrativas e a contestação de uma eleição legítima e democrática em 2024; nada novo. (1) (2)


Presidente Nicolás Maduro
Presidente Nicolás Maduro

 

O espetáculo trumpista

Em 8 de agosto, o governo Trump dobrou a recompensa por informações que levem à prisão de Maduro, algo que podemos considerar puramente espetáculo, já que, todos sabemos que para encontrar Maduro, basta ir até Caracas e procurar pelo Palácio de Miraflores, onde o presidente trabalha, muito diferente de seu homólogo. Dias depois, o presidente venezuelano anunciou a mobilização de 4,5 milhões de milicianos, em “defesa da soberania” diante de ameaças estadunidenses. Trump acusa maduro, dentre outras coisas, de narcotráfico internacional e terrorismo. Vamos lembrar que: Não foi a Venezuela que bombardeou o Irã; não foi a Venezuela que continua sendo a maior financiadora do genocídio palestino; não foi a Venezuela que ameaçou meio mundo e socou taxação contra os que não cederam a pressão; não é a Venezuela que persegue imigrantes e os tranca nos presídios insalubres de Bukele; a lista é longa. A real é que a escalada  dos EUA é tanto material quanto simbólica: sinaliza ao eleitorado doméstico de Trump que “aperta o cerco” a um “ditador” e, de quebra, cola a crise migratória e a criminalidade transnacional à figura de Maduro.

No Capitólio, uma resolução bipartidária publicada em 28 de julho de 2025 voltou a condenar a repressão e “o desmonte de instituições” sob o chavismo, reforçando o consenso de elite em Washington pela linha dura — útil, também, para fabricar consenso interno em ano de turbulência política nos EUA.

Apesar de ter reimposto sanções em 2025, a Casa Branca ensaia “válvulas” seletivas — como a licença para a Chevron retomar operações na Venezuela — para não estrangular a oferta e pressionar gasolina nos EUA. O pêndulo “pune Maduro / garante barris” é velho conhecido: castiga politicamente, mas evita custos eleitorais. Think tanks apontam, inclusive, que os “snapback sanctions” pouco alteram o jogo de poder em Caracas.

Tiros disparados no comício de Donald Trump em Butler, Pensilvânia
Tiros disparados no comício de Donald Trump em Butler, Pensilvânia

A retórica “anti-Maduro” rende dividendos entre exílios venezuelano e cubano, fundamentais na política da Florida. Vincular Maduro a crime organizado — como na cruzada contra o Tren de Aragua, elevada a “ameaça terrorista” — cria um clima de urgência securitária que justifica medidas excepcionais (migração, deportações, policiamento). Reportagens recentes expuseram exageros e desinformação no ecossistema que alimenta essa agenda. (3) 

A recompensa milionária funciona como aviso a aliados de Caracas (e a qualquer governo que ouse testar Washington): os EUA “podem tudo” na sua esfera de influência. É diplomacia do porrete com verniz jurídico (acusações penais) e espetáculo midiático (bounty). O programa de sanções da OFAC, permanentemente ajustado, dá a moldura burocrática dessa pressão. (4)

Para Caracas, a prioridade é sobreviver politicamente e manter margem de negociação sobre petróleo e finanças; para Washington, é reafirmar tutela hemisférica e demonstrar capacidade de “mudar regimes” — ainda que por sufocamento econômico e jurídico. Sanções prolongadas que nunca, produzem transições democráticas ou outros benefícios prometidos em campanha, pelo contrário, produzem pobreza e êxodos, que depois são instrumentalizados como prova contra o regime.

O licenciamento seletivo à Chevron ilumina a hipocrisia estrutural: quando interessa, óleo venezuelano é “seguro”, como durante a guerra entre Israel e Irã que os EUA se viu forçado a compra do petróleo venezuelano; quando não interessa, é “sangrento”. O objetivo não é democratizar, mas administrar riscos e preços.

Quanto a segurança como narrativa total; a construção do “narco-Estado terrorista” — com peças frágeis como o dossiê do Tren de Aragua — autoriza políticas de exceção na fronteira, deportações aceleradas e vigilância. É, como aponta o The Guardian, a gramática do medo a serviço da hegemonia. (3)

 

Uma ordem dos fatos

A ordem dos fatos resume bem o “programa ‘americano’”. Em 28 de julho o senado dos EUA aprova resolução condenando Maduro e exaltando a oposição (Machado e González) (4). Simultaneamente, o governo Trump reemite licença para a Chevron operar na Venezuela, após meses de linha dura (5). No mês seguinte, em 8 de agosto, os EUA dobram a recompensa para US$ 50 milhões pela captura de Maduro (1). Se ainda assim não está obvio o que Trump quer...

Ser anti-imperialista é recusar a lógica colonial que transforma sofrimento popular em moeda de barganha geopolítica. Os venezuelanos têm direito a decidir seu futuro sem tutela — nem de Washington, nem de caudilhos locais. Sanções que punem a população e “recompensas de faroeste” que espetacularizam a justiça não criam democracia; criam cercos. E cercos alimentam os próprios autoritarismos que dizem combater.

Se Trump “deseja a cabeça de Maduro”, não é por amor à democracia. É porque a cabeça, exibida na parede do Velho Oeste, renderia capital político interno, disciplinaria vizinhos indóceis, acomodaria o mercado de energia e consolidaria a mitologia do xerife. O povo venezuelano, mais uma vez, ficaria com a conta.


Referências

1. AL JAZEERA. Chevron allowed to resume Venezuela oil operations despite sanctions. Doha, 26 jul. 2025. Disponível em: https://www.aljazeera.com. Acesso em: 19 ago. 2025. 

2. BBC NEWS. Venezuela crisis: Maduro mobilizes millions in response to U.S. bounty. Londres, 18 ago. 2025. Disponível em: https://www.bbc.com. Acesso em: 19 ago. 2025. 

3. THE GUARDIAN. Joseph Humire and the think tank narrative on Tren de Aragua. Londres, 13 ago. 2025. Disponível em: https://www.theguardian.com/us-news/2025/aug/13/joseph-humire-thinktank-tren-de-aragua?utm_source=chatgpt.com

4. U.S. DEPARTMENT OF THE TREASURY – Office of Foreign Assets Control. General License: Chevron operations in Venezuela. Washington, 24 jul. 2025. Disponível em: https://ofac.treasury.gov. Acesso em: 19 ago. 2025. 

5. THE WASHINGTON POST. Trump allows Chevron to resume oil operations in Venezuela. Washington, 24 jul. 2025. Authors: Karen DeYoung e https://www.washingtonpost.com/national-security/2025/07/24/trump-chevron-venezuela-oil/?ut, Samantha Schmidt. Disponível em:. 

6. HUMAN RIGHTS WATCH. Venezuela: Repressão após eleições de 2024. New York, 2025. Disponível em: https://www.hrw.org. Acesso em: 19 ago. 2025. 

7. UNITED STATES SENATE. Resolution condemning Nicolas Maduro’s regime and supporting Venezuelan opposition leaders. Washington, 28 jul. 2025. Disponível em: https://www.congress.gov. Acesso em: 19 ago. 2025. 

8. TELESUR. Maduro mobiliza milícia contra ameaça dos EUA. Caracas, 19 ago. 2025. Disponível em: https://www.telesurenglish.net. Acesso em: 19 ago. 2025. 

9. BROOKINGS INSTITUTION. Snapback sanctions and the limits of U.S. pressure in Venezuela. Washington, 2025. Disponível em: https://www.brookings.edu. Acesso em: 19 ago. 2025. 

10. NEW YORK TIMES. How misinformation about Tren de Aragua fuels U.S. migration politics. New York, 15 ago. 2025. Disponível em: https://www.nytimes.com. Acesso em: 19 ago. 2025. 

 

 

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