Não entendeu ainda? Então que fique claro: Bolsonaro não é um preso político, ele é apenas mais um político preso!
- Siqka

- 12 de set.
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Atualizado: 13 de set.
O julgamento de Jair Bolsonaro representou um divisor de águas na história recente do Brasil. Condenado por sua participação na trama golpista que atentou contra a democracia, o ex-presidente e futuro presidiário deixou de ser apenas um líder medíocre de massas para se tornar um condenado que agora ingressa no rol dos que pagarão por seus crimes.
A condenação de Jair Bolsonaro foi resultado de sua responsabilização pela tentativa de golpe contra a ordem democrática em 8 de janeiro de 2023 e por atos preparatórios que buscavam subverter o Estado de Direito. O Supremo Tribunal Federal reconheceu que o ex-presidente teve papel central na articulação do movimento golpista, incitando seus apoiadores contra as instituições e estimulando ataques ao sistema eleitoral. Condenado por crimes contra a democracia, Bolsonaro perdeu direitos políticos e enfrenta pena de prisão. Tal sentença não foi fruto de perseguição ou de capricho institucional, mas resultado de um processo jurídico em que se reconheceram provas, responsabilidades e consequências diante da tentativa de destruir tudo pelo qual muitos brasileiros e brasileiras – verdadeiros heróis e heroínas da pátria – deram suas vidas.
Após a condenação do Bozo e da patota golpista, seus apoiadores, fiéis à estética já conhecida, voltaram às ruas trajados com as camisas da seleção brasileira, transformadas em símbolos de uma narrativa distorcida de patriotismo. Nas redes sociais, multiplicaram-se as manifestações de solidariedade ao ex-presidente, pintando-o como vítima de perseguição política. Para seus seguidores, Bolsonaro seria uma espécie de mártir da liberdade. Contudo, entre a mitificação e a realidade, impõe-se uma distinção necessária: Bolsonaro não é um preso político, ele é apenas um político preso.
Nelson Mandela, na África do Sul, foi encarcerado em 1962 e passou 27 anos nas prisões do regime do apartheid. Seu crime não foi corrupção ou traição institucional, mas a luta pela libertação de um povo submetido ao racismo estrutural mais violento do século XX. Antes dele, Mahatma Gandhi enfrentou a repressão do Império Britânico, tendo sido preso em 1922 e novamente em 1930 por liderar a resistência pacífica contra o colonialismo, armando-se apenas da força moral da desobediência civil. Já Martin Luther King, nos Estados Unidos, acumulou várias detenções nas décadas de 1950 e 1960, não por conspirar contra a democracia, mas por lutar para que a democracia se cumprisse para todos, exigindo direitos civis para os negros segregados. No Brasil, durante a ditadura civil-militar, milhares de homens e mulheres foram encarcerados, torturados e mortos não porque violaram a lei, mas porque ousaram enfrentá-la em nome da liberdade. E na Palestina, até hoje, milhares de pessoas permanecem presas em Israel por se oporem à ocupação e lutarem pelo direito de existir como povo livre.
“Eu acariciei o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual espero viver e alcançar. Mas, se necessário, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer.” Neson Mandela (Discurso de defesa no Julgamento de Rivonia, 1964.)
Mais recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conheceu duas prisões: a primeira, nos anos 1980, quando foi encarcerado pela ditadura por liderar greves operárias; e a segunda, em 2018, quando se tornou alvo de uma operação judicial que, mais tarde, se revelaria marcada por ilegalidades e interesses políticos. No primeiro caso, tratou-se de resistência contra um regime de exceção; no segundo, de uma tentativa de neutralizar sua trajetória política às vésperas de uma eleição. Ambos os episódios, em contextos distintos, inscrevem-se no campo das prisões políticas.
Do outro lado da história, estão os políticos presos — figuras que, ao contrário dos anteriores, foram condenadas por seus próprios atos de poder, abusos ou crimes comuns. Napoleão Bonaparte, derrotado em Waterloo, foi exilado e mantido sob vigilância em Santa Helena, não por defender a liberdade, mas por tentar consolidar um império. Benito Mussolini, líder do fascismo italiano, terminou fuzilado, exemplo de um político cuja trajetória se encerra no fracasso de sua própria tirania. Alberto Fujimori, no Peru, foi condenado a longas penas de prisão por corrupção e violações de direitos humanos. Ehud Olmert, em Israel, primeiro-ministro envolvido em casos de suborno e fraude, tornou-se símbolo de como a corrupção não poupa sequer os genocidas, em especial: os genocidas.
“Eu sou o Estado.” Napoleão Bonaparte (Frase atribuída a ele, sintetizando sua ambição imperial e a concentração absoluta de poder.)
Portanto, bolsonaristas inconformados, Jair Bolsonaro não é mártir – pois infelizmente ainda está vivo –, tampouco um prisioneiro político. Sua prisão não nasce do enfrentamento ao poder, mas do abuso dele; não decorre de lutar contra um sistema opressor, mas de tentar subjugá-lo e torná-lo ainda pior.
A diferença entre o preso político e o político preso está na motivação que leva ao cárcere: enquanto o primeiro entrega sua liberdade para que outros a tenham, o segundo a perde porque a usou para destruí-la. Bolsonaro, portanto, não é vítima de perseguição, mas protagonista de sua própria ruína.
“Só Deus me tira da cadeira presidencial.” Jair Bolsonaro (Discurso em setembro de 2021, durante atos de 7 de setembro.)
Não entendeu ainda? Então que fique claro: Bolsonaro não é um preso político, ele é apenas mais um político preso!


























































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