Quando os colonizados pegaram em armas: A Revolta dos Cipaios e o início da queda do império
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A história oficial — aquela escrita com tinta britânica e papel colonial — tentou rebaixar o acontecimento. Chamou de “Motim”, de “Revolta de Soldados”, de “insurreição localizada”. Mas a verdade é outra; em 1857, a Índia explodiu numa insurreição massiva contra a maior corporação assassina da história moderna — a Companhia Britânica das Índias Orientais. Foi a primeira grande revolta anticolonial do século XIX, um grito de libertação abafado por pólvora, enforcamentos e massacres.

Os Cipaios
Os cipaios eram soldados indianos recrutados pela Companhia para proteger os interesses britânicos — uma engrenagem do próprio sistema opressor. Mas nem toda engrenagem gira para sempre. A revolta começou quando os soldados se recusaram a usar cartuchos de rifle engraxados com gordura de vaca e porco — uma ofensa tanto para hindus quanto para muçulmanos. O que parecia uma questão religiosa era, na verdade, o estopim de um barril de pólvora que envolvia décadas de humilhação, saque e imposição cultural.
A rebelião se espalhou como rastilho de pólvora por Meerut, Delhi, Kanpur, Lucknow. Reis depostos, camponeses revoltados, nobres traídos, mulheres guerreiras — todos se uniram, ainda que por razões diferentes, para enfrentar o opressor estrangeiro. O trono de Delhi foi ocupado simbolicamente pelo último imperador mogol, Bahadur Shah II. Por alguns meses, o império britânico tremeu.
Como sempre, o colonialismo respondeu à revolta com massacre sistemático. Aldeias queimadas, populações inteiras executadas, prisioneiros mortos a canhão. As mulheres que participaram da resistência foram estupradas e assassinadas. Os corpos dos rebeldes foram expostos como aviso.
História silenciada, resistência eternizada
A Rebelião dos Cipaios foi derrotada militarmente, mas venceu no plano da consciência histórica. Foi a primeira fagulha de uma luta que só terminaria noventa anos depois, com a independência da Índia em 1947. Gandhi viria com a paz, mas antes houve sangue. Antes da não-violência, houve a recusa armada.
Os manuais britânicos a chamaram de “mutiny”. Nós a chamamos do que ela foi: a primeira revolução anticolonial do mundo moderno, a prova de que os povos não se curvam eternamente, e que até mesmo os soldados do império podem se voltar contra os senhores.

































































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